Título: CPI pede o indiciamento de seis aloprados
Autor: Peña, Bernardo de la
Fonte: O Globo, 15/12/2006, O País, p. 8

Relatório final da comissão que investigou os sanguessugas atribui a origem do dinheiro do dossiê às campanhas do PT

BRASÍLIA. Depois de uma série de reuniões que se estenderam até a madrugada de ontem, a CPI dos Sanguessugas aprovou ontem, em votação simbólica, seu relatório final com o pedido de indiciamento de dez dos investigados pela comissão. Seis petistas envolvidos na operação de compra do dossiê da família Vedoin contra políticos tucanos tiveram o seu indiciamento pedido ao Ministério Público por formação de quadrilha. Embora não tenha avançado nas investigações sobre a origem do dinheiro no caso, o relatório atribui a responsabilidade pelo R$1,7 milhão apreendido às campanhas eleitorais do PT.

A CPI sugeriu ainda aos procuradores o indiciamento do empresário Abel Pereira, ligado ao ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB); do deputado federal eleito pelo PT no Ceará José Airton Cirilo e de duas pessoas ligadas a ele, Raimundo Lacerda Filho e José Caubi Diniz. Todos foram indiciados por crimes que vão de tráfico de influência a fraudes em licitações, passando por improbidade administrativa e corrupção ativa.

Abel foi acusado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin de ser o intermediário dos negócios da empresa Planam, da máfia dos sanguessugas, no Ministério da Saúde durante a gestão de Barjas Negri. Os outros três foram acusados pelo empresário de terem atuado e recebido dinheiro para ajudar a liberar recursos devidos à Planam durante a gestão do petista Humberto Costa no Ministério da Saúde.

No relatório, Lando eximiu de responsabilidade os ex-ministros da pasta. O documento foi aprovado por unanimidade numa votação simbólica e rápida.

¿ Ao contrário do que se possa propalar, nossa CPI não terminou em pizza. Se o resultado não foi o que esperávamos, foge à nossa responsabilidade ¿ afirmou o presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).

O trecho mais polêmico do texto, de 981 páginas, sugere o indiciamento, por crime de formação de quadrilha, de Gedimar Passos, Valdebran Padilha, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas e Expedito Veloso, petistas acusados de envolvimento no escândalo do dossiê. ¿Não há dúvidas quanto à vinculação de Gedimar à campanha nacional do PT. Diversos outros personagens do episódio também estavam envolvidos na campanha, como Jorge Lorenzetti, Hamilton Lacerda e Osvaldo Bargas¿, diz o documento.

¿Além disso, os benefícios oriundos da vinculação de políticos do PSDB ao esquema sanguessuga eram nitidamente de interesse político-partidário e eleitoral¿, completa. O relatório cita ainda trecho do depoimento de Gedimar no qual ele diz ter informado aos policiais que o prenderam que eles ¿grampearam a campanha do Lula¿.

¿ No dossiê, não conseguimos mostrar a verdade, mas conseguimos desfazer a farsa ¿ explicou o subrelator da CPI, deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).

O relatório destaca que, se surgirem provas de que o dinheiro veio do caixa de campanha ou do PT, ficaria configurada a infração eleitoral de abuso do poder econômico. E pede que o caso seja acompanhado pela Corregedoria Geral Eleitoral e pelo Ministério Público.

O relatório aponta que U$75 mil teriam vindo da casa de câmbio Vicatur, na Baixada Fluminense, ¿que utilizou-se de terceiros em nome dos quais formalizou a operação de venda da moeda estrangeira¿.

Lando afirma no relatório que, a princípio, apenas R$25 mil possuíam identificação, sendo que R$5 mil tinham a fita do Banco Safra, outros R$5 mil da agência do Bank Boston na Lapa (RJ) e R$15 mil do Bradesco da Barra Funda. O relatório cita ainda que há pistas de que que parte do dinheiro tenham vindo de bancas do jogo do bicho, no Rio de Janeiro.

Lando recomenda a instauração de uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre todos os convênios firmados em 2002 com a Planam, da família Vedoin.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admitiu ontem, pela primeira vez, que a Polícia Federal pode fracassar nas investigações sobre o dossiê. Ele esperava que pelo menos um dos acusados confessasse a origem do dinheiro, após o segundo turno das eleições presidenciais, o que não aconteceu.