Título: O estado que vive quase todo em casa de taipa
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 15/12/2006, O País, p. 14

Em Alagoas, idosos convivem com a miséria; em Santa Catarina, qualidade de vida na velhice

MACEIÓ e FLORIANÓPOLIS. Entre os 2,9 milhões de habitantes de Alagoas, 80% vivem situações como a da viúva Maria Izabel da Conceição, de 74 anos: numa casa de taipa, de dois cômodos, sem banheiro, fogão de lenha, móveis velhos, e sustenta quatro dos sete filhos e 15 dos 30 netos.

¿ Como é que você acha que vive uma pessoa com um salário mínimo para sustentar vinte pessoas? A gente passa fome mesmo. O dinheiro não dá nem para os remédios ¿ desabafa a aposentada.

Maria Isabel mora na zona rural de Riacho Doce, no litoral norte, a 20 quilômetros de Maceió. Entre os vizinhos, dramas semelhantes comprovam a inexistência de programas da melhoria da qualidade de vida para quem tem mais de 60 anos e fatalmente morre antes dos 75.

Entre as famílias de idosos que sustentam filhos e netos desempregados, são comuns também histórias de mortalidade infantil. Na casa do pedreiro aposentado José Celestino Luma, 63 anos, dos nove filhos, um morreu com diarréia, quando a família morava no interior e consumia água nos açudes.

A presidente da Associação dos Municípios de Alagoas (AMA), prefeita do município de Feliz Deserto, Roseana Beltrão (PMDB), diz que no interior do estado a situação é bem pior:

Segundo ela, 18 municípios do sertão decretaram situação de calamidade pública por causa dois oito meses de estiagem. Em períodos de seca, a população consome água de açudes contaminados e de caminhões pipa, isto resulta no aumento das doenças, da mortalidade infantil e de idosos. O governador eleito, senador Teotônio Vilela Filho (PSDB), considerou que um dos maiores desafios de seu governo é continuar perseguindo a redução dos indicadores sociais negativos do estado.

Em Florianópolis, no Sul do país, a vida dos idosos é bem diferente. Em 2030, os catarinenses terão expectativa de vida de 79,76 anos, de acordo com lo IBGE ¿ a maior longevidade do país, à frente do Distrito Federal (79,63) e do Rio Grande do Sul (79,59).

Aposentado ultrapassa expectativa projetada

O aposentado Idalino Bez Batti já ultrapassou a expectativa projetada. Tem 88 anos, nasceu em Curitibanos, interior do estado, e mora em Florianópolis há 40 anos. Sua rotina diária que inclui café da manhã reforçado, sempre com frutas, a caminhada matinal e o descanso na Praça XV, onde joga dominó com os colegas. Ele acredita que a qualidade de vida oferecida pela cidade contribui para aumentar a idade média de seus habitantes.

¿ O clima é bom, não tem tanta correria. E eu também me cuido. Se sei que um tipo de alimentação não vai me fazer bem, corro fora ¿ disse Idalino Bez Batti.

Para Célio de Souza, de 60 anos, não adianta só viver mais. É preciso viver bem.

¿ Posso passear pela praça com minha neta (Natália, 7 anos) sem problemas. É uma tranqüilidade que não sei se encontraria numa capital maior, mais violenta.