Título: Desigualdade vai se manter até 2030, diz IBGE
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 15/12/2006, O País, p. 14

Projeções de indicadores sociodemográficos mostram que país, mesmo evoluindo, continuará com abismo entre regiões

O retrato da desigualdade é nítido: as projeções de indicadores sociodemográficos para 2030, divulgadas ontem pelo IBGE, apontam que, mesmo evoluindo, o Brasil manterá o abismo que separa as regiões. O brasileiro, em média, viverá mais e as crianças com menos de um ano morrerão menos, mas a boa notícia não alcança estados do Nordeste. Em 2030, a esperança de vida nacional será de 78,33 anos ¿ seis a mais do que em 2005. Em Alagoas, não ultrapassará os 75,16 anos, enquanto em Santa Catarina estará próxima aos 80 anos.

Alinhados com Santa Catarina estão Rio Grande do Sul, Espírito Santo, São Paulo e Paraná. Formam um claro contraste com Maranhão, Paraíba, Piauí e Pernambuco ¿ com as piores expectativas de vida do país, próximas à de Alagoas.

¿ É como se os estados do Nordeste tivessem desperdiçado uma geração inteira, porque só hoje alcançam níveis que outros estados, do Sul e do Sudeste, viviam há mais de vinte anos. É como se nada tivesse sido feito ao longo de uma geração. Os dados mostram a perpetuação das diferenças regionais ¿ afirmou o gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Juarez de Castro Oliveira.

Fecundidade tende a cair

A distorção entre as regiões também é clara quando é levada em conta a taxa de mortalidade infantil (crianças de até um ano). Posicionado novamente como pior colocado no ranking, Alagoas chegará apenas em 2036 ao índice de 15 mortos a cada mil nascidos, alcançado pelo Rio Grande do Sul ¿ estado com os melhores índices nacionais ¿ há três anos. Para 2030, a projeção do IBGE indica que a probabilidade de um recém-nascido falecer será de 11,53 por mil. O índice hoje é de 25,9 por mil nascidos vivos.

A taxa de fecundidade do país tende a cair ¿ de 2,02 filhos por mulher, em 2005, para 1,59, em 2030. Mais uma vez, o Brasil aparece dividido: as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste continuarão, nos próximos anos, com níveis mais baixos de fecundidade do que o Norte e o Nordeste. As taxas mais baixas variarão de 1,20 filho por mulher (Rio de Janeiro) a 2,75 filhos por mulher (no Amapá).

A fecundidade média do país tenderá a cair, segundo o IBGE. Para 2030, a expectativa é que seja de 1,59 filho por mulher. Hoje, o índice é de 2,02 e em 2000 era de 2,41. O instituto também estima a concentração da fecundidade entre os 15 e os 34 anos: 95% das mães terão filhos nessa faixa etária.

A queda da taxa de fecundidade, somada à taxa de mortalidade adulta e, no caso do Nordeste, à migração para outros estados levam o IBGE a uma outra conclusão: o número médio de filhos por mulher tenderá a não garantir a reposição de gerações.

Menos mortes de recém-nascidos

A previsão do instituto é que o número de óbitos de adultos e crianças em 2030 chegue a 1.645.627. Em 2005, o número de mortos foi 1.146.836. Há uma previsão otimista quanto às mortes de recém-nascidos: o número deverá passar dos 86.392, registrados no ano passado, para 28.052, em 2030. A proporção será mantida: o número de mortes continuará maior na região Sudeste (728.723) e menor no Norte (113.758) e no Centro-Oeste (119.392).