Título: Aéreas querem privatização do setor
Autor: Batista, Henrique Gomes e Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 15/12/2006, Economia, p. 41

Companhias defendem no Senado que o controle de aeroportos seja leiloado

BRASÍLIA e RIO. As empresas áreas defenderam ontem, em reunião com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, e uma comissão de senadores que acompanha a crise, que seja privatizada parte do setor aéreo brasileiro. Foram duas propostas: uma de leiloar a concessão de exploração de alguns aeroportos, feita pela TAM, e a outra, de passar à iniciativa privada o controle aéreo brasileiro, levantada pela Gol, com o argumento de que este é um modelo que já funciona em outros países.

Segundo um dos participantes da reunião, a TAM defendeu a privatização de alguns aeroportos como forma de atrair recursos ao setor. Em um evento no Tribunal de Contas da União (TCU), no fim de novembro, o presidente da Infraero admitiu que falta captar R$2,8 bilhões para completar os R$5,5 bilhões necessários para obras nos aeroportos.

A proposta, no entanto, foi rapidamente rechaçada por membros do governo:

¿ Hoje comecei a ouvir que estão pensando em propor a privatização dos aeroportos. Não podemos deixar isso avançar, temos que lembrar o que ocorreu com as estradas brasileiras, onde só se privatizaram as lucrativas e as outras ficaram abandonadas ¿ afirmou o presidente da Anac.

Reservadamente, militares e representantes do governo admitem que alguma forma de parceria com a iniciativa privada não seria ruim, sobretudo para obras de expansão. Mas eles descartam, de antemão, a privatização, pois entre os 67 aeroportos brasileiros, apenas 11 são auto-suficientes.

Analista diz que setor privatizado é comum lá fora

A privatização de sistemas de controle de tráfego aéreo e também de aeroportos é comum em outros países, afirma o consultor Paulo Sampaio. Ele lembra que em Londres o controle de tráfego aéreo é feito por 30 empresas particulares. No caso da privatização da Infraero, Sampaio diz que é um caminho possível mas que não poderia acontecer em um único bloco.

¿ O ideal seria desmembrar os aeroportos. Um exemplo: quem ficar com Guarulhos leva também aeroportos menores. Mas não ficaria com Congonhas e Campinas.

Para ele, consórcios entre construtoras que atuam em aeroportos e empresas especializadas em administração pública são viáveis e seriam os potenciais interessados. Já uma fonte do setor afirma que a privatização da Infraero acabaria com o cabide de empregos que se tornou. Ela cita o exemplo da Embraer, que quando foi vendida tinha 12 mil empregados e, em pouco tempo, ficou com 4,5 mil e hoje tem 19 mil empregos em uma empresa eficiente e lucrativa.

Durante a cerimônia de entrega à Varig do Certificado de Homologação a Empresas e Transporte Aéreo (Cheta), Zuanazzi criticou a mídia, afirmando que a imprensa fez ¿terrorismo¿ ao publicar apenas ¿as coisas ruins¿ sobre o setor aéreo, desde o início da crise.

Ontem, dos 1.157 vôos programados, 329 (ou 28,4% dos trechos) tiveram atrasos superiores a uma hora. Segundo a Anac, outros 39 foram cancelados. No aeroporto Tom Jobim, no Rio, 35,7% dos vôos atrasaram. (Henrique Gomes Batista, Erica Ribeiro e Bruno Rosa)