Título: Varig obtém certificado, mas corre contra o tempo
Autor: Batista, Henrique Gomes e Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 15/12/2006, Economia, p. 41

Empresa tem agora um mês para recuperar as linhas congeladas a que tem direito, disputadas pela concorrência

BRASÍLIA e RIO. Depois de cinco meses de espera e disputas de bastidores, a Nova Varig ¿ a parte saudável da companhia ¿ obteve ontem o Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta), em solenidade prestigiada até por ministros. O documento dá segurança jurídica à empresa, permitindo melhores condições para a retomada da atividade e o acesso a crédito. Mas foi apenas a primeira barreira vencida.

A Nova Varig tem um mês para encontrar aeronaves disponíveis no mercado e garantir o máximo das outras 132 linhas (vôos) nacionais a que tem direito e estão congeladas. Segundo Denise Abreu, diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a empresa opera 140 linhas.

Na área internacional, são quatro vôos. Há 56 congelados ¿ mas, nesse caso, a empresa tem 180 dias para recuperar a malha. As linhas não utilizadas estão em disputa judicial, já que as concorrentes querem as permissões de vôos e acreditam que o congelamento das rotas representa reserva de mercado.

¿ A Varig tem 30 dias para pedir a reutilização de suas linhas nacionais e 180 para as internacionais. Depois disso, as linhas voltam à agência, e nós poderemos redistribuí-las entre as companhias ¿ disse Denise.

`Vamos encontrar aviões¿, afirma executivo

Do leilão de venda da Nova Varig, em julho, até ontem, a empresa atuava com uma autorização provisória. Sem o Cheta, estava com dificuldades de fazer planos de longo prazo. Agora, a idéia é buscar a expansão e o desafio, achar equipamentos.

¿ O problema é que a demanda no mercado de aeronaves está muito grande ¿ disse o chinês Lap Wai Chan, um dos sócios da Nova Varig, que conversa com fabricantes (Airbus, Boeing, Embraer), empresas de leasing e companhias aéreas.

¿ Nossa meta é crescer, e vamos encontrar aviões. Não estamos escolhendo a marca ¿ disse o novo presidente da empresa, Guilherme Laager. ¿ A situação da Varig está muito boa, no último mês tivemos mais de 80% de ocupação nos vôos.

Anac: haverá melhores condições de competição

A Varig, que já foi a maior companhia aérea do país, detém 10,8% do mercado doméstico, conta com 15 Boeings 737/300, dois MD-11 e um Boeing 767. Ela atua em 17 destinos: 13 nacionais e quatro internacionais. A partir de segunda-feira, começa a voar para Florianópolis, Belo Horizonte e Porto Seguro.

¿ Temos de lembrar que em março tínhamos 1.640 vôos por dia, e agora estamos com 1.380. O ano deve fechar com alta de 13% no número de passageiros e 7,8% na oferta de assentos. A entrada da Varig vai permitir melhores condições de competição ¿ disse o presidente da Anac, Milton Zuanazzi.

O ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, afirmou que a crise da Varig trouxe mais prejuízo ao turismo do que a atual pane nos aeroportos.

Para o juiz Luiz Ayoub, do Tribunal de Justiça do Rio, o crescimento da Nova Varig ajudará a impulsionar a Varig antiga, que permanece com as dívidas e em recuperação judicial. A velha Varig recebe, por exemplo, recursos da Nova Varig, provenientes de aluguéis de imóveis, contratos com centros de treinamento e fretamento de aviões.

O consultor Paulo Sampaio acredita que, para tentar manter as rotas que foram garantidas à Nova Varig quando houve o leilão de seus ativos, a companhia fará negócios com potenciais investidores, como Lan Chile e Air Canada. O consultor afirmou que o setor passa a ter, de fato, um terceiro competidor.

A Petrobras reajustou em 7,6% o preço do querosene de aviação, que representa de 35% a 40% do custo das empresas aéreas.