Título: Tom moderado na discussão sobre o mínimo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/12/2006, O País, p. 10

Governo acena com R$375, mas centrais querem R$420

BRASÍLIA. O maior exemplo do tom mais cauteloso que passou a ser adotado pelo governo surgiu esta semana no debate sobre o aumento do salário mínimo. Pressionado pelas centrais sindicais, o governo baixou o piso para as negociações. A proposta orçamentária enviada pelo próprio governo ao Congresso previa o valor de R$375, com base na estimativa da inflação pelo INPC mais o Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

No entanto, como as previsões não se confirmaram e esses índices para 2006 ficaram inferiores aos estimados, a equipe econômica passou a defender R$367, o que representa um reajuste nominal de 4,86% em relação aos atuais R$350 e um aumento real de 1,65% e 1,8%. O governo praticamente já aceitou os R$375, valor abaixo dos R$420 reivindicado pelas centrais sindicais. Na melhor das hipóteses, o valor final do mínimo será, no máximo, de R$390.

¿ O governo não vai suportar um reajuste de cerca de 10% acima da inflação, como ocorreu neste ano, quando o salário mínimo pulou de R$300 para R$350. Isso não vai mais acontecer porque atinge a Previdência. Será preciso uma proposta realista ¿ diz o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Cautela também na discussão do Bolsa Família

Esse discurso moderado também tem sido a tônica no debate sobre o reajuste prometido pelo próprio Lula para o benefício pago pelo Bolsa Família, o principal programa social do governo. Desde outubro de 2003, quando foi criado, o programa repassa de R$15 a R$95 mensais. O Ministério do Desenvolvimento Social propôs a elevação desses valores para a faixa de R$17 a R$107, mas o pedido foi vetado por Lula no início deste ano. Agora, esse reajuste seria de até 17%, de acordo com a inflação do período. Mas a área econômica tem resistido. O ministro Patrus Ananias evita fazer promessas e já incorporou a determinação de evitar armadilhas.

¿ Estamos defendendo o reajuste do Bolsa Família. Os valores estão sendo estudados pela equipe econômica. Mas a definição será do presidente Lula. Estamos trabalhando vários cenários para o reajuste, com base na inflação do período. Não podemos ter um reajuste indexado, mas é importante dar às famílias assistidas o direito à alimentação ¿ diz Patrus.

Para o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT), ao fixar metas ousadas, o presidente Lula cria um uma expectativa positiva na sociedade. No caso da meta de 5% do crescimento do PIB, observa, atinge o planejamento das empresas e aumenta a auto-estima nacional. Não cumprir a meta pode se constituir um risco.

¿ Na política há uma regra básica: sempre que for possível estabelecer projetos sem quantificá-los, melhor! ¿ diz Déda.