Título: No Planalto, promessas viram fantasmas
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/12/2006, O País, p. 10

Petistas e aliados temem que governo não cumpra metas e objetivos anunciados por Lula em discursos e entrevistas

BRASÍLIA. No Palácio do Planalto já foi dado o alerta sobre o risco de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tropeçar nas expectativas e metas geradas por ele próprio e pelo governo para 2007, o início do segundo mandato que comportou, até aqui, todo tipo de promessa. A preocupação maior nesta reta final de ano é desarmar as várias armadilhas criadas por promessas de campanhas e discursos propalados por Lula.

Na avaliação de assessores palacianos e até mesmo de ministros petistas, o maior temor é com a eventual frustração diante da possibilidade de o governo não conseguir cumprir as propostas mais ousadas, como o crescimento de 5%, que Lula repetia como que um mantra desde o resultado da eleição no final de outubro. A ordem, agora, é evitar a repetição deste índice, difícil de ser concretizado.

No Planalto, ressurgiu com força na semana passada a lembrança do fantasma da geração dos 10 milhões de empregos, feita na campanha presidencial de 2002. O número ¿mágico¿ aprisionou o governo, lembrou um ministro da área econômica. Mesmo com a criação de cerca de sete milhões de empregos no primeiro mandato, criou-se um anticlímax pelo não cumprimento da meta eleitoral.

Os fantasmas do momento são o aumento do salário mínimo, o reajuste dos benefícios do programa Bolsa Família e a meta de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. Até mesmo no governo já há a convicção de que será praticamente impossível atingir um crescimento superior a 4,5%, por exemplo.

Conselhos para Lula parar de fazer promessas

Diante dessa realidade, Lula foi reiteradamente aconselhado nas últimas semanas a não citar mais metas em seus discursos e entrevistas.

¿ Não podemos criar uma grande expectativa de nós mesmos. Isso ocorreu quando diminuímos o desemprego no país, mas não geramos os 10 milhões falados na campanha de 2002. Agora, podemos crescer com qualidade, mas não chegar aos 5%. Essa é uma armadilha. Não precisamos criar um número para alcançar ¿ disse o governador Jorge Viana (PT-AC), cotado para assumir um ministério no novo governo Lula.

A palavra ¿anticlímax¿ passou a ser citada com freqüência no núcleo do governo. Há um esforço grande entre os interlocutores mais próximos de Lula de tentar convencê-lo de que é preciso adaptar o discurso à realidade, para evitar desgastes desnecessários, uma vez que ele teria outros números positivos para exibir.

¿ Quando Lula estabelece metas, é um ato de coragem. Mas isso tem que se efetivar em medidas concretas para viabilizar a promessa. Não pode ser apenas uma promessa vazia ¿ observa o governador eleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).