Título: Futuro incerto faz Furlan chorar em público
Autor: Damé, Luiza e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 14/12/2006, O País, p. 8

Clima de despedida em seminário

BRASÍLIA. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, se mostrou ontem angustiado ao falar sobre sua permanência ou não no cargo. Depois de participar de um seminário no Banco do Brasil, Furlan chorou ao ser perguntado sobre seu futuro. Disse que é preciso lidar com os dois lados: o emocional e o racional.

¿ E o senhor consegue, ministro (lidar com os dois lados)? ¿ perguntou um jornalista.

¿ Nem sempre é possível ¿ respondeu, com a voz embargada e olhos marejados.

Mais cedo, o ministro brincava com as especulações. Ao tropeçar, quando se movimentava no auditório, onde fez um balanço dos quatro anos à frente da pasta, comentou, arrancando gargalhadas de participantes:

¿ Ih, queda de ministro.

Sem responder à pergunta sobre sua permanência, Furlan contou uma história para ilustrar como é difícil, segundo ele, ¿fazer acontecer em um governo¿. E mostrou o quanto lhe incomoda não ter ingerência direta no BNDES ¿ um dos maiores bancos de fomento do mundo que, pelo menos no papel, estaria subordinado ao seu ministério.

¿ Pessoas que apresentam soluções e resolvem os problemas são poucas.

Segundo ele, em 2003, quando as linhas de financiamento para a exportação no Brasil secaram, ele recorreu aos presidentes dos dois maiores bancos oficiais do Brasil, solicitando a liberação de pelo menos US$1 bilhão.

¿ O Banco do Brasil (na época, presidido por Cassio Casseb) disse que poderia garantir US$500 milhões e cumpriu a promessa. O presidente de outro banco disse que me daria a resposta no dia seguinte. Até hoje estou esperando ¿ disse Furlan, sem dizer o nome do banco.

Pessoas próximas ao ministro disseram que o pano de fundo é a falta de garantia de que ele mandará no BNDES, o que nunca conseguiu. Logo que assumiu, teve que engolir Carlos Lessa, indicado pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, e a economista Maria da Conceição Tavares. Quando Lessa saiu, foi a vez do ministro da Fazenda, Guido Mantega, colocar alguém de sua confiança, o economista Demian Fiocca.

De forma geral, a avaliação de quem esteve no seminário foi de que Furlan estava se despedindo. Estava acompanhado de auxiliares, assessores e secretários, além da esposa, Ana Maria Furlan.

Ele agradeceu a todos, citando-os nominalmente. À mulher, fez uma deferência especial.

¿ Quero agradecer à minha esposa, que suportou 400 dias de viagens e momentos de ausência.