Título: Esquerda cobra mais espaço no governo do PT
Autor: Damé, Luiza e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 14/12/2006, O País, p. 8

Lula reclama: `Na China não tem partido e, quando o presidente manda, todo mundo obedece. Aqui, nem o PT me obedece¿

BRASÍLIA. Dois dias depois de ter dito que, com a maturidade, o político deixa de ser de esquerda e passa a ser de centro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem cobranças de 34 representantes de movimentos sociais para que puxe o segundo mandato para a esquerda e amplie a participação do setor nas políticas de governo.

Horas antes de se reunir com dez partidos aliados para discutir o governo de coalizão, Lula criticou o PT ao falar do crescimento econômico e do sistema político da China.

¿ Vejam: na China não tem partido político e, quando o presidente manda, todo mundo obedece. Aqui, nem o PT me obedece ¿ disse Lula, segundo um dos presentes.

Lula ainda comemorou a derrubada, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da chamada cláusula de barreira, afirmando que ela gerava distorções, como parlamentares de ¿segunda e terceira classes¿. E prometeu que fará tudo para destravar a economia e promover o crescimento.

Os dirigentes de movimentos sociais reivindicaram a participação das entidades em conselhos deliberativos de empresas estatais, agências reguladoras e até no Conselho Monetário Nacional (CMN) e no Comitê de Política Monetária (Copom). O coordenador do Movimento dos Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, mostrou que o movimento tem dúvidas se o presidente conseguirá fazer um governo que agrade aos setores à esquerda e aos conservadores.

¿ O cobertor é curto. É dele a capacidade de conciliar gregos e troianos. Este é o ano (de fazer mudanças). Não tem desculpa de que haverá um próximo mandato. Acabou a fase do movimento chapa-branca.

E comentou a afirmação de Lula de que na maturidade se abandonam ideais de esquerda:

¿ Ele (Lula) pode ter essa posição, mas o governo foi eleito por uma base de esquerda. Vamos disputar espaços no governo com setores do capital financeiro e forças conservadoras.