Título: CPI: oposição quer afirmar origem de recursos do dossiê
Autor: Peña, Bernardo de la
Fonte: O Globo, 14/12/2006, O País, p. 11

Apresentação de relatório causará briga com o governo

BRASÍLIA. Os governistas e oposicionistas devem enfrentar novo embate hoje na CPI dos Sanguessugas, durante a apresentação do relatório final da comissão. O confronto será provocado pelo tratamento dado no relatório ao episódio da tentativa de compra do dossiê contra os tucanos. Sem ter avançado nas investigações, o relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), não deve incluir no documento indicações sobre a origem do R$1,7 milhão apreendido com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha.

Os oposicionistas querem atribuir a origem do dinheiro ao caixa dois das campanhas petistas e estão dispostos a apresentar um voto em separado para incluir a informação no texto.

Outra divergência deve provocar confronto entre governo e oposição: Lando já deu sinais de que só deve pedir o indiciamento de Gedimar, Valdebran e de Hamilton Lacerda, o ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) apontado pela Polícia Federal como o responsável por levar ao hotel Ibis, em São Paulo, o dinheiro que seria usado para comprar o dossiê.

¿- Queremos que o relatório diga o óbvio: que o dinheiro veio da campanha. Não é possível dizer que veio do além, porque não existe registro deste banco na Basiléia ¿ ironizou o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

O vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), tem a mesma posição.

¿- A decisão tem de ser de pedir o indiciamento dos sete aloprados e, ao mesmo tempo, dizer que o dinheiro veio do caixa dois da campanha de São Paulo e de Brasília ¿ explicou Jungmann, numa referência ao envolvimento no caso de integrantes da campanha do senador Mercadante e do comitê pela reeleição do presidente Lula.

Para Ideli, oposição vai ter que apresentar provas

Sub-relator responsável pela investigação sobre o dossiê, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) acha que é possível dizer que os recursos estavam sendo usados como caixa dois ou do PT ou das campanhas petistas. Embora ainda esteja ajustando o relatório, Lando já deu sinais de que, além dos três investigados que tiveram contato com o dinheiro envolvido na operação, não deve pedir o indiciamento dos outros petistas ligados ao episódio.

Existe uma dúvida apenas em relação ao ex-chefe do serviço de inteligência da campanha nacional petista Jorge Lorenzetti, apontado pela PF como o articulador nacional da tentativa de compra. Além dele, os oposicionistas querem que a CPI peça o indiciamento do ex-assessor do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini, Osvaldo Bargas; do ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e do ex-assessor da Presidência da República Freud Godoy.

Bargas e Expedito participaram das negociações entre os petistas e a família Vedoin. Freud foi citado por Gedimar no seu primeiro depoimento na PF como um dos responsáveis pela operação. Na defesa que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral e à CPI, Gedimar voltou atrás e disse que citou Freud, um amigo de mais de 10 anos do presidente Lula, por ter sido coagido pelo delegado federal Edmilson Bruno a apontar algum nome ligado ao PT.

Os governistas prometem resistir. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), disse que a oposição vai ter que provar que os recursos saíram de caixa dois.

¿- Quem colocar no relatório tem de ter provas ¿ insiste a petista.