Título: Riqueza mais concentrada
Autor: Rodrigues, Luciana e Balbi, Aloysio
Fonte: O Globo, 14/12/2006, Economia, p. 35

Municípios menores perdem espaço no PIB

Nos últimos anos, as capitais e regiões metropolitanas perderam peso na economia nacional. Mas o caminho da riqueza rumo ao interior não significou uma menor concentração espacial do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) do Brasil. Pelo contrário: o dinamismo econômico ficou restrito a cidades médias, que avançaram com o petróleo, a agropecuária e a interiorização da indústria. Pesquisa divulgada ontem pelo IBGE mostra que aumentou a concentração do PIB municipal brasileiro, com as cidades menores perdendo espaço. Em 2003, os 556 municípios (10% do total) mais ricos do país geravam um PIB 19,9 vezes maior do que a metade mais pobre das cidades do país. No ano seguinte, essa medida da desigualdade aumentou: 20,4.

São cidades pequenas, a maioria com menos de 20 mil habitantes, que compõem essa metade inferior da riqueza nacional. Por seu porte, têm dificuldade de atrair empresas e gerar atividade econômica própria, explica Daniel da Mata, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Não por acaso, os números do IBGE mostram que 35% dos municípios brasileiros são muito dependentes do governo: a administração pública responde por pelo menos um terço do PIB nessas cidades. Em Uiramatã, cidade majoritariamente indígena de 6.300 habitantes em Roraima, o setor público responde por nada menos do que 88,9% do PIB municipal.

Por outro lado, diz Ranulfo Vidigal, diretor-executivo da Fundação Cide, os municípios médios que se tornaram pólos dinâmicos do interior mantêm uma extrema concentração de capital:

¿ Houve uma interiorização, mas não uma desconcentração. São cidades que abrigam o petróleo ou a metal-mecânica no Estado do Rio, os calçados no Ceará ou a indústria automobilística na Bahia.

Macaé, Campos e Caxias na lista das 10 maiores

Graças ao petróleo, Macaé ingressou na lista das dez maiores economias do Brasil, na oitava posição, deixando Porto Alegre fora do grupo. O avanço de Macaé foi a passos largos: em 1999, a cidade ocupava o 55º lugar no ranking nacional. A coordenadora da pesquisa do IBGE, Sheila Zani, lembra que em 2004 o preço do barril do petróleo, em reais, subiu 25%. Além disso, em Macaé, houve um aumento da produção industrial no setor de equipamentos petrolíferos.

Ao lado de Campos (6º lugar no ranking das maiores economias municipais), Macaé foi a cidade que mais ganhou relevância no PIB brasileiro desde 1999. Mas essa riqueza não foi integralmente apropriada pelos moradores da região. Em Macaé, hotéis de alto luxo são erguidos ao mesmo tempo em que cresce a favelização e a migração de mão-de-obra pouco qualificada. A população triplicou desde os anos 80, assim como os problemas. De bairros nobres como o Cancela Preta, onde existem mansões, já se podem avistar barracos. Cerca de 16% dos domicílios de Macaé estão em favelas. Em Campos, essa parcela é de 5%, mas porque muitos moradores fugiram da violência e, hoje, vivem em loteamentos clandestinos que não são caracterizados como favelas, explica o professor Roberto Moraes, do Observatório Sócio-Econômico do Norte Fluminense:

¿ Campos vive uma situação que talvez nenhum outro município na história do Brasil e do mundo tenha experimentado. Em 1994, o orçamento da cidade era de R$37 milhões e, no ano que vem, será de R$1,3 bilhão. Qualquer ferramenta econômica que se use não vai garantir esse orçamento no futuro, quando os royalties do petróleo vierem a minguar. Campos terá que aprende a viver, na melhor das hipóteses, com a metade do orçamento de hoje. Isso se aplica também a Macaé.

Maranhão tem 57 dos 100 menores PIBs `per capita¿

Daniel da Mata, do Ipea, destaca que cidades com pouca diversificação econômica ficam muito vulneráveis a choques setoriais e a oscilações bruscas do PIB. Até agora, porém, o cenário tem sido favorável no caso do petróleo: o barril custava em média US$18 em 1999 e, este ano, ficou em US$60.

Graças ao petróleo, o Estado do Rio emplacou também Duque de Caxias (10º) no ranking dos maiores PIBs municipais. Ao todo, são quatro cidades fluminenses na lista, já que a capital, Rio de Janeiro, é a segunda maior do país. Juntas, as dez maiores economias municipais respondem por um quarto do PIB nacional.

¿ É uma concentração absurda ¿ diz Sheila Zani, do IBGE.

Enquanto a capital paulista, primeira no ranking, tem um PIB de R$160,64 bilhões, São Félix do Tocantins (TO), uma cidade de 1.500 habitantes, está na lanterninha. O município produziu apenas R$2,67 milhões em 2004. E Apicum-Açu, no Maranhão, tem o menor PIB per capita do país: R$763,36, ou exatos R$2,09 por dia para cada cidadão. Maranhão abriga 57 dos cem municípios com menor PIB per capita. A disparidade regional nesse indicador é enorme: o menor PIB per capita da região Sul é de R$3.220, em Itaperuçu (PR). Mesmo assim, essa cidade paranaense tem renda superior a 75% dos municípios do Nordeste.

Mas, aos poucos, Rio e São Paulo, maiores cidades do país, têm perdido terreno. Os cariocas ficavam com 4,3% do PIB brasileiro em 2003, parcela que caiu a 4,2% no ano seguinte. Entre os paulistanos, a perda foi maior: de 9,4% para 9,1%. Já grandes e médias cidades do interior avançaram. Um grupo de 25 municípios formado pelos cinco destaques no interior de cada região do país viu sua fatia no PIB nacional subir de 5,3% em 1999 para 7,4% em 2004.

MANAUS E CAMPOS SUPERAM RIO NA INDÚSTRIA, na página 36