Título: Constrangido, Aldo se cala sobre reajuste
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 16/12/2006, O País, p. 8

Presidente da Câmara não respondeu a Suplicy, que, diante de jornalistas, pedira revisão de aumento no Congresso

SÃO PAULO. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), protagonizou uma cena constrangedora ontem de manhã, um dia depois de os parlamentares terem aumentado seus próprios subsídios em 90,7%. Abordado por jornalistas e pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Aldo optou por se calar. Ele fez uma palestra de 20 minutos e saiu do seminário ¿Reforma Política e Cidadania¿, promovido pela Fundação Perseu Abramo, sem tocar no assunto.

A assessoria de Aldo avisou que ele não falaria com a imprensa. Ao fim do debate, porém, foi abordado por Suplicy que pediu, na frente dos repórteres, que Aldo revisse o aumento. Suplicy disse que tem recebido inúmeros e-mails de pessoas reclamando da medida e disse ser favorável a um reajuste de 28%, referentes à inflação acumulada nos últimos quatro anos, o que elevaria os subsídios para R$16.500.

¿ É exagerado (o aumento de 90,7%). Tenho recebido mensagens de todo o país. Tendo em conta essa justa indignação, peço que haja uma reconsideração ¿ disse Suplicy.

Aldo reclama de tentativa de limitar a liberdade política

Aldo, que está em campanha pela reeleição à presidência da Câmara, depois de ouvir a sugestão de Suplicy, levantou-se e, amparado por seguranças que empurravam os jornalistas, desvencilhou-se da imprensa até entrar no elevador.

No seminário, Aldo reclamou da tentativa de ¿setores da sociedade¿ de limitar a liberdade política. Ele citou o filósofo alemão Hegel (1770-1831), para dizer que as corporações querem substituir a política:

¿ Instituições e corporações tentam destituir dos homens a posse de seu destino.

Segundo ele, a política reflete os valores da sociedade.

¿ Nossas instituições políticas são reflexos da nossa sociedade. Não adianta querer discutir a reforma política sem discutir os problemas da sociedade.

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, que falou antes de Aldo, se recusou a comentar o aumento dos parlamentares, mas alertou para o risco das generalizações.

¿ Não podemos jogar fora a criança junto com a água do banho ¿ disse Dulci, em referência ao Congresso.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que também participou do evento, defendeu a adoção de tetos salariais mais baixos.

¿ Um país como o Brasil deveria ter um limite, um teto, bem mais baixo do que tem.

O presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, disse que o reajuste deve ser compatível com os índices aplicados para o restante da população.

¿ Acredito que o aumento vai significar cortes em outras vantagens. Pelo menos era o que estava sendo discutido em um primeiro momento.

Perguntado se o aumento concedido sob o mandato de Aldo prejudica a candidatura do petista Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara, Garcia afirmou que os partidos da base do governo deverão ter uma única candidatura.

¿ Teremos uma solução de unidade nessa questão. Podem ter certeza: não teremos outra morte e vida severina ¿ disse Garcia, referindo-se a Severino Cavalcanti (PP-PE).

Em 2005, o PT lançou Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães, facilitando a vitória de Severino, destituído do cargo por corrupção.