Título: Lula: Ditadura do Brasil não foi tão violenta como a chilena
Autor: Jungblut, Cristiane e Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 16/12/2006, O País, p. 11

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a ditadura no Brasil não foi violenta como o regime militar do Chile e de outros países da América do Sul. Lula fez essa declaração depois de almoçar com oficiais-generais do Exército, Marinha e Aeronáutica, realizado no Clube do Exército. Por conta dessa afirmação, o presidente foi duramente criticado por familiares de desaparecidos políticos e dirigentes do Grupo Tortura Nunca Mais.

Ao sair do Clube do Exército, Lula concedeu rápida entrevista e respondeu a uma pergunta sobre a nota divulgada sobre a morte do ditador chileno Augusto Pinochet, quando disse que o Chile viveu dias sombrios:

¿ A ditadura no Brasil não foi uma ditadura violenta como foi no Chile, como foi nos outros países. No Brasil, houve um processo de energia negociado, inclusive com as pessoas que participaram do processo e que foram vítimas ¿ disse Lula.

Cecília Coimbra, do Tortura Nunca Mais, classificou a declaração de Lula como uma ¿atrocidade¿. Para ela, ao comparar as ditaduras do Brasil com a de outros países sul-americanos, Lula recorre a um argumento de político de direita.

¿ Não é porque desapareceram 30 mil na Argentina e 500 no Brasil que a repressão aqui foi menos violenta. A questão não é numérica. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a exportar know-how de tortura. Estou indignada e envergonhada com essa declaração do presidente ¿ disse.

Augustino Veit, integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos, também criticou:

¿ Duro saber que o Lula, uma vítima da ditadura, disse essas coisas. É mais uma prova de que o nosso presidente fez um acordo com os militares para não mexer nesse tema.