Título: Pilotos acusam controladores de vôo por acidente
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 16/12/2006, O País, p. 13

Na primeira entrevista nos EUA após desastre, Lepore e Paladino foram apresentados como heróis por pousar Legacy

WASHINGTON. Os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paladino responsabilizaram ontem os controladores de vôo do Brasil pela colisão do Legacy com o Boeing 737-800 da Gol, que resultou na morte de 154 passageiros e tripulantes do avião da Gol. Na primeira entrevista desde a tragédia (29 de setembro), ambos disseram a Matt Lauer, do programa ¿Today¿, da rede de TV NBC, que não têm culpa alguma, pois simplesmente cumpriram as orientações recebidas dos controladores.

Eles foram apresentados como heróis por terem pousado o jatinho, com sete pessoas a bordo, após o impacto:

¿ Obedecemos todos os regulamentos. Estávamos fazendo exatamente o que se esperava que fizéssemos. Nós simplesmente sentimos um solavanco que não sabíamos de onde vinha ¿ disse Paladino ao descrever o choque.

Ao seu lado estavam Lepore e o advogado de ambos, Robert Toricella. A versão deles é a de que o Legacy voava a 37 mil pés de altitude, conforme o programado, e não poderia sair dessa faixa sem permissão dos controladores. Mais falante que o colega, Paladino insistiu em sugerir que a culpa teria sido dos funcionários brasileiros:

¿ Os controladores têm a responsabilidade de administrar o tráfego aéreo.

Segundo o plano original de vôo o Legacy teria de manter a altitude de 37 mil pés entre São José dos Campos (SP) e Brasília, onde baixaria para 36 mil. Ao chegar ao norte do Mato Grosso, os americanos teriam que elevar o Legacy até 38 mil pés para seguir viagem até Manaus. A faixa dos 37 mil naquela área estava reservada para o avião da Gol, que voava de Manaus para o Rio. Paladino queixou-se do confinamento:

¿ Estávamos num país onde havia muita emoção naquele momento. Perdemos nossa liberdade. Não sabíamos o que ia acontecer. Então tivemos que nos refugiar no hotel para enfrentar a tempestade.

Os americanos não mencionaram um detalhe crucial: a dúvida se o transponder (que opera o sistema automático de anticolisão) funcionou mal ou estava desligado. O informe técnico diz que o mecanismo ficou desligado por pelo menos 50 minutos antes do choque.