Título: Embaixador espiritual dos refugiados
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 17/12/2006, O País, p. 16

Em Tabatinga, o padre Gonzalo Franco ajuda migrantes

LETÍCIA (Colômbia) e TABATINGA (AM). Quando um refugiado colombiano recém-chegado à fronteira pede ajuda, ouve quase sempre duas palavras: padre Gonzalo. Criado nos guetos de Medellín e dedicado à causa dos imigrantes sul-americanos, Gonzalo Franco, de 37 anos, tornou-se uma espécie de embaixador dos refugiados desde que pisou em Tabatinga, há dois anos. Apesar de colombiano, ele é integrante da Igreja Católica brasileira e, mesmo sem dominar o português, é o padre mais popular da paróquia.

Gonzalo conheceu de perto a violência do narcotráfico. Ele conta que perdeu mais de 30 amigos de infância que, na adolescência, foram recrutados para trabalhar como pistoleiros da organização chefiada por Pablo Escobar, maior traficante da história da Colômbia. Diante de tanta pobreza, segundo relata, os jovens eram seduzidos pelo dinheiro oferecido pela facção, numa história parecida com a das favelas cariocas.

¿ Escobar pagava algo como R$1 mil para cada policial morto. Era muito dinheiro. Hoje, dos meus melhores amigos, só lembro de dois que estão vivos ¿ diz ele.

Gonzalo decidiu deixar a Colômbia há seis anos, quando foi para os Estados Unidos trabalhar com os imigrantes mexicanos na Califórnia. Foi para a fronteira para passar apenas 15 dias, conheceu o drama dos refugiados de seu país e acabou ficando. Em Tabatinga, recebe migrantes todas as semanas. Ele escuta suas histórias, providencia alimentos e abrigo e dá orientações sobre como pedir formalmente refúgio ao governo brasileiro. Hoje, busca recursos para construir a Casa de passo (passagem), um abrigo para os refugiados idealizado por ele.

¿ Essa guerra não vai acabar e a migração vai continuar. Os governos ainda não perceberam isso