Título: Bingos voltam a funcionar após ação da PF
Autor: Gares, Déborah e Pontes, Fernanda
Fonte: O Globo, 18/12/2006, Rio, p. 11

Segundo MP, mandados eram apenas para caça-níqueis e interdição de casas de jogo pode ter sido erro de interpretação

Apesar de a Polícia Federal ter interditado 18 bingos nos municípios do Rio e de Nova Friburgo, anteontem, durante a Operação Ouro de Tolo, as casas de jogo estavam abertas ontem. Até o Espaço Marquês, no Flamengo, que teve sua porta lacrada pela PF, funcionou normalmente de tarde, assim como máquinas caça-níqueis instaladas em bares perto da sede da Polícia Civil. Segundo o Ministério Público federal, a decisão da Justiça era apenas para apreensão das máquinas nos bingos. A interdição das casas pode ter sido feita por um erro de interpretação da PF ou por determinação da Receita Federal, que acompanhou a operação.

Como sua fabricação é proibida no Brasil, as máquinas apreendidas pela Polícia Federal podem ter sido contrabandeadas, segundo investigação do Ministério Público federal. Muitos caça-níqueis só entraram no país por força de liminares, que depois foram cassadas.

No Bingo Arpoador, em Copacabana, onde anteontem 30 caminhões foram utilizados para recolher 320 caça-níqueis, os clientes puderam jogar a partir das 15h.

No Espaço Marquês, na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, uma funcionária limpava ontem a porta de vidro que, na véspera, havia sido lacrada por um agente da PF.

Como a Polícia Federal não executou todos os 28 mandados de busca e apreensão, bingos como o de Laranjeiras continuaram funcionando normalmente, inclusive com caça-níqueis.

Apesar de o jogo de azar ser proibido no Brasil, os caça-níqueis podem ser vistos em diversos bares da cidade, inclusive nos localizados perto de unidades policiais. A poucos metros da sede da Polícia Civil, na Rua da Relação, as máquinas eram usadas livremente ontem. O mesmo acontecia nos arredores do prédio da Secretaria de Segurança Pública, na Central, e da Academia de Polícia (Acadepol), na Cidade Nova.

Dono de bar: nunca houve repressão a caça-níqueis

Na Tijuca ¿ onde os bingos Saens Peña e Tijuca tiveram suas máquinas lacradas ¿ caça-níqueis também eram operados normalmente. Na Conde de Bonfim, por exemplo, bares ganharam novos adeptos.

¿ Como apreenderam os videobingos, a gente vem para o bar ¿ disse Valmir Rocha, enquanto jogava num bar da Rua Haddock Lobo, na Tijuca.

No Flamengo, jogadores reclamaram da ação da polícia.

¿ Joga quem quer. O prejuízo é no bolso de cada um ¿ disse um deles.

Segundo o dono de outro estabelecimento, desde que começaram a ser instalados em bares do Rio, nunca houve repressão aos caça-níqueis:

¿ Tenho máquinas há dez anos e nunca enfrentei problemas. Os policiais sabem da existência dos caça-níqueis e da máfia, mas não fazem nada.