Título: Empresas novatas na bolsa deram ganhos até 6 vezes acima da média
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 18/12/2006, Economia, p. 19

Analistas, no entanto, frisam que desempenho no futuro não está garantido

O ano de 2006 chega ao fim com o maior número de lançamento de ações das últimas duas décadas. Foram 26 estreantes no mercado, de acordo com João Batista Fraga, superintendente de relações com empresas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Desde 2004, 42 novas companhias foram lançadas no pregão, proporcionando aos investidores ganhos que chegam a quase seis vezes o do Ibovespa ¿ caso da Localiza, a mais rentável de todas, com alta de 446,5% desde o lançamento, em maio do ano passado, contra 77,66% do principal índice da bolsa paulista. Na maioria dos casos, foi um bom negócio: apenas seis papéis acumulam desempenho negativo desde a estréia. Entre eles, a Renar Maçãs é a que teve maior prejuízo, de 60% desde a oferta, em fevereiro de 2005, ante alta de 52,88% do mercado.

O histórico mostra que os pequenos investidores, que entraram maciçamente nas ofertas, devem tomar cuidado ao aplicar em ações. Embora a maioria dos lançamentos tenha sido bem-sucedido ¿ em parte, devido ao excelente cenário internacional, que atraiu estrangeiros para o mercado brasileiro, em busca de oportunidades de investimento ¿, há possibilidade de o dinheiro virar pó.

Investidor deve avaliar empresa e ramo de atuação

Analistas são categóricos em afirmar que o investidor não pode se deixar levar pela euforia do mercado e, antes de investir em ações, uma aplicação de alto risco, deve procurar saber mais sobre a empresa e seu setor de atuação.

¿ Vivemos três anos muito bons: entre 2004 e 2006 a bolsa subiu com força. Mas, esse foi um movimento atípico do mercado. Muitos investidores se deixaram levar e entraram em algumas ofertas sem nem saber ao certo que tipo de papel estavam comprando. Mas, é preciso avaliar o risco das empresas, entender seu negócio e o setor em que atua, para minimizar os riscos inerentes ao mercado de ações ¿ avalia Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.

¿Rentabilidade passada não é sinônimo de ganho futuro¿. A frase, um verdadeiro mantra do mercado financeiro, está estampada em regulamentos de fundos de investimentos e ofertas públicas de ações, mas os investidores passam ao largo das recomendações diante dos tentadores resultados de algumas das estreantes.

Como ignorar, por exemplo, os ganhos de uma Natura? A empresa virou um case de mercado, pois foi um dos primeiros papéis lançados após dois anos praticamente sem operações do gênero na bolsa. Desde então, subiu fortemente. O bom desempenho abriu caminho para outras empresas entrarem no mercado. Desde a estréia, a Natura subiu 332,53%, contra 125,59% do Ibovespa.

¿ A palavra-chave é governança corporativa. O investidor paga mais pela segurança de ter seus interesses alinhados com o do controlador. É um sinal de amadurecimento do mercado ¿ diz Fraga, da Bovespa.

Para Bernardo Lobão, analista de Renda Variável da ARX Capital Management, só governança não basta:

¿ Governança é fundamental, mas é preciso também um modelo de negócios bem-sucedido, com gestão competente, que traga um crescimento acima das expectativas do mercado. Foi a governança, aliada à boa gestão que beneficiou a Natura e a Localiza ¿ explica.

Natura já vale mais do que a TAM na Bolsa

A Natura, por exemplo, cresceu 45% apenas este ano e já vale R$12 bilhões em Bolsa.

¿ É mais do que uma TAM, que está avaliada em R$10 bilhões e pouco menos que uma Aracruz, que vale R$13,5 bilhões. Com uma gestão eficiente e o crescimento da renda, a empresa foi beneficiada. O mesmo ocorreu com a Localiza, cuja receita cresceu mais de 20% este ano ¿ diz Daniella Marques, analista de renda variável da Mercatto.

Mas, nem tudo são flores. Eduardo Roche, analista de da Modal Asset, lembra o caso do UOL. A oferta foi bem-sucedida, mas depois os investidores não enxergaram o potencial de crescimento de receita prometido e os papéis desabaram.

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