Título: Um beco sem saída
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Fonte: O Globo, 18/12/2006, O Mundo, p. 20

BERLIM. O Hamas precisa assumir compromissos para ser levado a sério, crê o historiador palestino Nazmi Al-Jubeh, da Universidade de Birzeit. Autor de livros sobre o desenvolvimento da Palestina, Al Jubeh disse em entrevista, por telefone, que a situação é quase um beco sem saída.

O senhor acha que uma guerra civil entre o Fatah e o Hamas já começou?

NAZMI AL-JUBEH: Há violência nas ruas mas não há ainda uma guerra civil. Nenhum dos dois, nem o Fatah nem o Hamas, tem interesse em uma guerra civil, embora a situação tenha chegado a um nível inédito de violência. Na minha opinião, mesmo com um acordo, a situação é critica, um beco sem saída. Quem mais sofre é a população pobre, a maioria. Eu penso na situação das pessoas na Faixa de Gaza, que vivem há anos sem dinheiro, sem liberdade e sem perspectiva.

É possível a realização de eleições sem a participação do Hamas, que foi o partido mais votado em janeiro?

JUBEH: O presidente Abbas sugeriu a realização de eleições antecipadas como uma solução possível para o conflito. Mas esta seria apenas uma das opções. O mais importante é a retomada das negociações, pois novas eleições não mudarão nada, nem o enorme desgaste dos dois principais partidos palestinos. O Hamas perdeu popularidade com o caos dos últimos meses. Mas o Fatah também tem grandes problemas, desde a época de Arafat. Ele não tem qualquer estratégia. Eu acho que nenhum dos dois tem grande interesse em eleições.

Quem determina hoje a posição do Hamas, o primeiro-ministro Ismail Haniyeh ou o líder Khaled Meshaal, exilado em Damasco?

JUBEH: Ninguém sabe no momento quem determina o rumo do Hamas. O fato é que os líderes exilados têm uma posição mais dogmática. Mas o Hamas precisa assumir compromissos para ser levado a sério, não pode fazer o tempo todo papel de oposição.

A Síria ajuda o Hamas, os EUA prometeram auxílio a Abbas. Isso significa a internacionalização do conflito entre o Hamas e o Fatah?

JUBEH: Sim. Todo conflito no Oriente Médio tem o problema entre Israel e os palestinos como pano de fundo. No caso do conflito interno palestino, eu espero que venha ajuda de fora porque o Hamas e o Fatah já demonstraram que sozinhos não encontrarão uma solução. Enquanto isso, o problema inicial, a negociação com Israel, é esquecido. Quem perde é o povo.