Título: Hamas ataca escritório de Abbas
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Fonte: O Globo, 18/12/2006, O Mundo, p. 20

Violência entre grupos palestinos mata três e fere dezenas. Cessar-fogo é anunciado à noite

CIDADE DE GAZA

Omovimento radical islâmico Hamas disparou ontem morteiros sobre o escritório do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, além de atacar um campo de treinamento da força de elite de seu partido, o nacionalista Fatah, e uma passeata de integrantes do grupo. Por sua vez, as forças de segurança do Fatah invadiram dois ministérios do governo do premier Ismail Haniyeh, do Hamas, e o comboio que transportava um dos líderes do grupo muçulmano foi emboscado por milicianos.

A explosão de violência, que ontem matou três pessoas e feriu dezenas, ocorreu um dia depois de o presidente Abbas convocar eleições antecipadas para o Parlamento ¿ hoje controlado pelo Hamas ¿ e já é considerada a maior entre grupos palestinos desde a criação de Israel, em 1949.

No fim da noite, foi anunciado um cessar-fogo entre Hamas e Fatah. Homens armados seriam tirados das ruas, passeatas seriam proibidas e prisioneiros dos dois lados, libertados.

O ataque mais grave ocorreu quando dois morteiros caíram próximos à residência oficial de Abbas na Cidade de Gaza, ferindo cinco seguranças e uma mulher. O presidente estava na Cisjordânia na hora do ataque. Antes, uma gigantesca passeata com cem mil partidários do Fatah foi atacada a tiros por milicianos trajando fardas normalmente usadas pelo Hamas. Soldados do Fatah responderam e uma jovem de 19 anos morreu no tiroteio. Entre os feridos no fogo cruzado está o repórter francês Didier François, do jornal ¿Libération¿.

Pesquisa aponta vitória do Fatah em eleições

No início da manhã, um campo de treinamento da guarda de elite do Fatah, a Força 17, foi atacado por milicianos que pareciam fazer parte do Hamas. Um oficial do Fatah foi morto. O Hamas negou que tenha ordenado o ataque à Força 17.

À noite, Adnan Rahmi, coronel da força de segurança do Fatah, foi seqüestrado e assassinado por integrantes do Hamas.

Diante de uma multidão de simpatizantes do Fatah em Jenin, na Cisjordânia, um dos líderes do grupo, Mohammed Dahlan, ameaçou o Hamas.

¿ Não continuaremos em silêncio diante das ameaças feitas pelo Hamas, que estão aterrorizando e silenciando (a população), fechando fronteiras e roubando dinheiro ¿ disse Dahlan, que na sexta-feira foi acusado pelo Hamas de orquestrar o atentado contra o premier Haniyeh, em Gaza.

Mas não somente o Hamas pode ser acusado de ações violentas. Com a desculpa de aumentar a área de segurança em torno do escritório da Presidência em Gaza, forças de segurança do Fatah invadiram os ministérios da Agricultura e dos Transportes, expulsando funcionários do Hamas.

Um dos principais integrantes do governo do Hamas, o chanceler Mahmoud Zahar, foi atacado a tiros, mas não ficou ferido. Ele acusou o Fatah de golpe pela invasão dos ministérios.

O presidente Abbas, que ontem conversou por telefone com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, se reuniu com o tribunal eleitoral palestino para acertar detalhes das eleições antecipadas, que o Hamas não aceita. Uma pesquisa divulgada ontem coloca Abbas e Haniyeh em empate técnico, com 46% e 45%, respectivamente. Mas o Fatah venceria, por 42% a 36%, as eleições parlamentares, e 61% dos palestinos querem a antecipação.