Título: Maluf e família são denunciados por lavagem
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 19/12/2006, O País, p. 9

Deputado federal eleito, ele deve ser diplomado hoje e, com o mandato, passará a ter direito a foro privilegiado

SÃO PAULO. O Ministério Público Federal denunciou ontem à 2ª Vara Criminal, especializada em crime financeiro, o ex-governador e deputado federal eleito Paulo Maluf (PP-SP), além de outras dez pessoas que fariam parte de um esquema de formação de quadrilha para lavar dinheiro proveniente de corrupção. Todos foram denunciados por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.

Entre os dez outros denunciados estão a mulher de Maluf, Sylvia Lutfalla Maluf; os quatro filhos do casal, Flávio, Ligia, Lina e Otávio; a mulher de Flávio, Jacqueline Coutinho Maluf; e o marido de Ligia, Maurílio Miguel Curi. Maluf será diplomado deputado hoje em cerimônia no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Com o mandato, o ex-governador terá direito a foro privilegiado, e o processo contra ele passa a ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STJ) e não mais pela Justiça federal.

Após analisar mais de 40 mil documentos obtidos no paraíso fiscal de Ilhas Jersey, na Suíça e na Inglaterra, o procurador da República Rodrigo de Grandis decidiu oferecer a denúncia diretamente à 2ª Vara, pois os fatos têm relação com o processo a que Maluf responde pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Por causa desse processo, Maluf e seu filho Flávio ficaram 40 dias presos na sede da Polícia Federal, no ano passado, até que o STF os libertou.

Segundo a denúncia, parte do dinheiro de corrupção proveniente das obras da antiga Avenida Águas Espraiadas, na Zona Sul de São Paulo, construída na última gestão de Maluf na prefeitura paulistana, foi para a conta Chanani, em Nova York, e de lá para quatro contas em Jersey, de onde migrou para sete fundos de investimentos na mesma ilha. O dinheiro teria sido investido em seguida na Eucatex, presidida por Maluf.

Reunião com Deutsche Bank no Plaza Athenée, em Paris

Entre os papéis obtidos, segundo o MPF, encontra-se um documento com detalhes sobre uma reunião, realizada em março de 1997, no Hotel Plaza Athenée, em Paris, entre Maluf, advogados e executivos do Deutsche Bank na qual foi tratada a criação de fundos de investimentos. Não consta pedido de prisão para nenhum dos denunciados.

- Até o momento não vi fundamentos para pedir a prisão preventiva - disse de Grandis.

A denúncia contra a família Maluf atinge um preposto do ex-governador em Jersey, Hani Kalouti, acusado de ser um dos responsáveis pela montagem do esquema e o casal de doleiros Roger Clement Haber e Myrian Haber, acusados pelo crime de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O casal é apontado pelo MPF como autor das transferências de valores do Brasil para os Estados Unidos e Europa.

A assessoria de Maluf, por telefone, criticou a denúncia:

- Paulo Maluf e família não têm contas no exterior. Sobre a Eucatex, os investimentos foram feitos por estrangeiros do Deutsche Bank com aprovação do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - disse um assessor do ex-prefeito, por telefone.