Título: Jornalista é acusado de receber suborno de máfia
Autor: Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 19/12/2006, Rio, p. 15

A BANDA PODRE: Gravações registram conversas suspeitas

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O Ministério Público Federal divulgou ontem o conteúdo da denúncia contra o Jornalista José Messias Xavier, da TV Globo. Segundo as acusações, Messias teria se utilizado das prerrogativas da profissão para passar informações sigilosas conseguidas junto à polícia e à Justiça ao grupo chefiado por Fernando Iggnácio, o cabeça de uma das máfias de caça-níqueis do Rio. Além disso, ele é acusado de fazer reportagens que prejudicariam o grupo rival, chefiado por Rogério Andrade. Para isso, Messias receberia um pagamento mensal da quadrilha.

As investigações da Polícia Federal chegaram ao Jornalista após o monitoramento, com a autorização da Justiça, dos telefonemas de Sílvio Maciel de Carvalho, advogado da quadrilha de Fernando Iggnácio. A partir daí, Messias também teve seus telefonemas interceptados e pelo menos dois encontros com o advogado foram monitorados por agentes da PF. O Jornalista foi denunciado por formação de quadrilha.

Num dos diálogos, referência a presentes

Nos diálogos gravados pela PF há, segundo o MP, referências a presentes recebidos pelo Jornalista todos os meses. Num dos trechos dos diálogos transcritos pela polícia, Messias avisa a Sílvio Maciel que, no dia seguinte, diversos mandados de prisão e de busca e apreensão relacionados à máfia dos caça-níqueis seriam expedidos pela 1ª Vara de Bangu, em agosto. A informação foi então repassada pelo advogado para toda a quadrilha. Em outro diálogo, Messias demonstra sua ansiedade em conhecer Iggnácio pessoalmente.

O Jornalista não foi encontrado ontem para comentar as acusações. Segundo o "RJ-TV", da TV Globo, Messias não só as negou, como informou que vai abrir seu sigilo bancário e fiscal. Disse também que quer prestar depoimento em juízo.

Segundo a TV Globo, Messias afirmou que tentou se infiltrar na quadrilha do bicheiro Fernando Iggnácio para entrevistá-lo e que pretendia escrever um livro sobre os bastidores da guerra dos caça-níqueis. Disse também que nunca recebeu dinheiro do bicheiro e que o "presentinho" que aparece nas conversas gravadas eram documentos. Mas a gravação fala também de "dinheirinho".

A TV Globo afirmou em nota que não tem dúvida de que somente a Justiça poderá concluir se o Jornalista é culpado ou inocente dos crimes de que é acusado. No entanto, diz a nota, como fica claro, diante do conteúdo das gravações telefônicas, que o comportamento do Jornalista foi incompatível com as normas éticas da emissora, ele foi desligado ontem à tarde da empresa.