Título: Ausente, Aldo é vaiado em ato de diplomação
Autor: Barobosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 20/12/2006, O País, p. 5

Também alvo de manifestações, Berzoini defende debate sobre a remuneração dos três poderes

SÃO PAULO. O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi vaiado ontem durante a diplomação dos eleitos este ano em São Paulo. Ele não estava presente à solenidade de entrega dos diplomas, realizada na Assembléia Legislativa de São Paulo. Mesmo assim, recebeu vaias do público que lotava a galeria quando seu nome foi chamado. Outros deputados, envolvidos no escândalo do mensalão, também foram vaiados. O ex-apresentador de TV e estilista Clodovil Hernandes (PTC), eleito deputado federal, recebeu aplausos, vaias e assobios.

A maioria do público, ligada ao governador eleito, o tucano José Serra, também diplomado, começou o coro de vaias quando o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, eleito deputado federal pelo PT, foi receber o seu diploma. Serra e Palocci não falaram nem deram entrevistas. Em seguida, as vaias foram para o deputado reeleito Ricardo Berzoini, presidente afastado do PT, que também recebeu aplausos. O petista disse que é preciso discutir o teto da remuneração dos três Poderes, mas não se manifestou contrário ao aumento de 90,7% dos congressistas.

- Acho importante que o Brasil discuta qual o teto remuneratório dos poderes, e não apenas do Legislativo, porque a situação que temos hoje é de absoluto desequilíbrio, principalmente em relação ao Executivo, o que causa evidentemente uma distorção muito grande. O correto é discutir - disse Berzoini.

Outro ex-presidente do PT, José Genoino, deputado federal eleito, também não foi à solenidade, mas recebeu muitas vaias misturadas a aplausos, assim como o deputado federal eleito Valdemar Costa Neto (PL), envolvido no mensalão mas reeleito, depois de ter renunciado ao mandato para não ser cassado.

Ao ser chamado para receber o diploma, o ex-prefeito e deputado eleito Paulo Maluf (PP) caminhou devagar, mancando, de bengala, enquanto era vaiado. Maluf, que recebeu 740 mil votos (a maior votação do país para deputado federal), foi denunciado segunda-feira pelo Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.

- Em 39 anos de vida pública, não tive uma condenação penal e não preciso do foro privilegiado. Os 740 mil votos que eu tive é porque trabalhei por este estado e vou continuar trabalhando - disse Maluf.

Antes de ser diplomado, Clodovil, que recebeu 493 mil votos, assinou o abaixo-assinado contra o reajuste de 90,7% para deputados e senadores, com bom-humor:

- Tudo o que mandarem eu faço. Eu já disse uma vez que, em curral alheio, o boi é vaca. Eu não sou contra, não sou a favor, não sou nada. Eu não sei ainda. Vou aprender durante o ano, tanto que meu salário eu já doei. Não quero meu salário injusto, não sei ainda fazer esse trabalho. Então, o primeiro ano vou fazer esse benefício com ele.

Único do PSOL em São Paulo, o deputado federal reeleito Ivan Valente, que era do PT, criticou os líderes que aprovaram os 90,7% de aumento para os parlamentares:

- A indignação da população funcionou, a pressão popular de baixo para cima funcionou, e espero que essa pressão popular continue se manifestando com outras questões da agenda política do país - disse.

Presidente da Comissão de Ética da Câmara Federal, o reeleito Ricardo Izar (PTB) defendeu acordo entre Câmara e Senado para que o reajuste dos parlamentares seja de acordo com a inflação dos últimos quatro anos, e não 90,7%.

- Não importa o índice em si, 16%, 18%, 18% ou 30%, mas a inflação dos quatro anos. Não precisa mais que isso. Se a mesa resolver colocar a inflação dos quatro anos, resolve o problema. Nós estamos passando pelo pior período da nossa história em termos políticos, a maior crise. Foram mensaleiros, foi renúncia do presidente da Câmara, depois os sanguessugas e irregularidades constantes. Foi o pior Congresso da história, e termina dessa maneira? Não é possível - reclamou Izar.

Em Curitiba, um protesto contra o aumento dos deputados terminou em confusão. Vários parlamentares, como o deputado reeleito Reinhold Stephanes (PMDB-PR), agrediram e foram agredidos por manifestantes.