Título: Cúmplices até no Judiciário
Autor: Werneck, Antonio e Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 20/12/2006, Rio, p. 15
Quadrilha de Rogério Andrade foi avisada sobre revogação de liminares
Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam uma suposta ramificação da quadrilha de Rogério Costa de Andrade e Silva, de 43 anos, no Judiciário. Base da Operação Gladiador, as interceptações de conversas de integrantes do bando mostram que o contraventor foi avisado, com nove dias de antecedência, sobre a revogação de liminares garantindo o funcionamento de bingos no Rio.
Na conversa gravada em 16 de outubro, Alan Nascimento Figueiredo - citado na denúncia do Ministério Público federal como secretário de Rogério - é informado por Flávio da Silva Santos sobre a queda das liminares e a conseqüente operação da PF. À época em liberdade, Flávio é apontado como o responsável do bando pelas máquinas de bingos. Entre eles, o Intendente, em Vila Valqueire.
Rogério Andrade é tratado como '01' em telefonemas
Em código, Flávio diz a Alan para alertar Rogério, chamado de 01, para o fechamento das casas de jogos.
- A obra vai parar, mas todas as obras do Rio vão parar por causa de licença. Mas volta tudo ao normal depois - diz Flávio.
A gravação é citada na denúncia do MP federal como indício de que a quadrilha tem "grande grau de infiltração nos órgãos encarregados da persecução penal e, quiçá, no próprio Judiciário".
Os procuradores ressaltam que, em 25 de outubro, a PF cumpriu liminar da 6ª Vara Federal, fechando 13 bingos no Rio e três em Niterói.
Em outro trecho das gravações, Jobson Ribeiro de Aguiar, o Binho, diz que a segurança de Rogério Andrade, preso na Polinter, está sendo feita por policiais ligados aos inspetores Fábio de Menezes Leão, o Fabinho, que foi detido durante a Operação Gladiador, e Hélio Machado da Conceição, o Helinho, foragido da Justiça.
- Falei com o Fabinho. Ele e o Helinho acertaram a proteção do 01 fora da Polinter. Tem homem (policial) de serviço e à paisana - assegura.
'Vou desmoralizar esses delegados vendidos'
Jobson também revela o esquema montado pelos inspetores - chefiados por Álvaro Lins, segundo a PF - para acusar integrantes do bando de Fernando Iggnácio em inquéritos forjados. Num dos casos citados, Marcos Paulo Moreira da Silva, o Marquinho Sem Cérebro, é apontado como assassino de um jovem, em Bangu, em outubro. Ex-fuzileiro naval, ele é ligado a Iggnácio. Outro aliado de Iggnácio, o sargento bombeiro Antônio Carlos Macedo, diz:
- Vou desmoralizar esses delegados vendidos: Milton Olivier, 34, 39, Itagiba, comandante do 34 - diz na gravação.
Procurados pelo GLOBO, Itagiba disse que não faria comentários e Milton Olivier não retornou as ligações.