Título: PIB somou R$1,5 tri até setembro. Carga tributária atinge nível histórico
Autor: Rodrigues, Luciana e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 20/12/2006, Economia, p. 33

Investimentos crescem com queda dos juros e avanço da construção civil

RIO e SÃO PAULO. A economia brasileira produziu R$542,1 bilhões em riquezas no terceiro trimestre deste ano. De janeiro a setembro, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços produzidos pelo país) somou R$1,53 trilhão, informou ontem o IBGE. Apesar do fraco desempenho da economia este ano, houve um avanço do investimento e da poupança no terceiro trimestre.

Os recursos destinados à ampliação da capacidade produtiva do país - investimentos em máquinas e equipamentos, além de construção civil - representaram 20,8% do PIB. É a segunda maior taxa para um terceiro trimestre desde 1995.

Investimento é insuficiente para PIB avançar 5%

A taxa de poupança, de 25,2% do PIB, também foi a segunda maior da série histórica do IBGE. Claudia Dionisio, técnica do instituto, explica que a renda dos brasileiros cresceu mais do que o consumo. Com isso, sobraram recursos para a poupança. Em termos nominais, a renda cresceu 9,7% frente ao terceiro trimestre de 2005, contra uma alta de 8,5% no consumo.

Já os investimentos cresceram graças à queda dos juros, ao aumento da oferta de crédito para empresas e à importação de máquinas e equipamentos, facilitada pelo dólar baixo. Além disso, acrescenta Claudia, a construção civil vem se recuperando desde o início do ano.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) calcula que, no acumulado de 2006, até setembro, a taxa de investimento tenha sido de 20,6% do PIB. O Iedi destaca que, apesar dessa melhora recente, o investimento no Brasil ainda está em patamar incompatível com um crescimento mais vigoroso do país. Para uma expansão de 5% da economia, diz o Iedi, seria necessário uma taxa de investimento de 25% do PIB.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, afirma que a excessiva carga tributária e a incerteza regulatória freiam os investimentos no Brasil:

- Mais do que desonerações pontuais, que subsidiam setores específicos, o governo deveria fazer uma reforma tributária de verdade, reduzindo a carga para as indústrias e também para os consumidores. Os investimentos que temos hoje só são suficientes para um crescimento de 2% a 2,5% do PIB, que é a nossa taxa atual.

Vale acrescenta que, para reduzir a carga tributária, o governo precisaria diminuir seus gastos correntes, principalmente com Previdência.

Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a carga tributária do país alcançou 38,82% do PIB de janeiro a setembro, contra 38,10% no mesmo período de 2005. A alta foi de 1,9%. A carga tributária per capita somou R$3.223,17, R$288,09 a mais do que nos nove primeiros meses de 2005.

Mantido o ritmo atual, o IBPT estima uma carga tributária total, no fechamento de 2006, entre 38,5% e 38,8% do PIB, novo recorde histórico. Corresponderia ainda a um aumento de quase um ponto percentual em relação ao resultado de 2005, que foi de 37,82%.

Ainda pelos dados do IBPT, de janeiro a setembro os contribuintes brasileiros desembolsaram, juntos, R$2,17 bilhões em tributos por dia. Por segundo, foram R$25.168,64. Da arrecadação até setembro, no valor de R$593,66 bilhões, 69,29% corresponderam a impostos federais, 26,05% entraram nos cofres estaduais e 4,65% couberam aos municípios.

Os números do PIB divulgados pelo IBGE mostram que a indústria produziu R$200,5 bilhões em riquezas no terceiro trimestre, enquanto na agricultura essa soma chegou a R$34,4 bilhões. No setor de serviços, foram R$275,2 bilhões.

Envio de recursos ao exterior bate recorde

Capacidade de financiamento do país sobe a R$16,9 bi com internacionalização de empresas

RIO e SÃO PAULO. Mesmo com a perda de vigor das exportações e o crescimento das importações, a economia brasileira produziu um excedente de recursos de R$16,19 bilhões no terceiro trimestre de 2006, informou ontem o IBGE. Essa foi a chamada capacidade de financiamento do país e bateu recorde: o maior patamar para um terceiro trimestre desde 1995. No ano passado, nesse período, o volume fora de R$13,4 bilhões. Desde 2002, segundo o IBGE, o saldo da balança comercial explicava o aumento na capacidade de financiamento do país. Mas, desta vez, o excedente de recursos enviado pelo Brasil ao exterior cresceu graças a um aumento das reservas internacionais e à expansão de empresas brasileiras lá fora.

Os investimentos de firmas brasileiras em outros países, que somaram R$1,7 bilhão no terceiro trimestre de 2005, chegaram a R$4,9 bilhões entre julho e setembro deste ano.

- Ao longo de 2006, aumentou a internacionalização de empresas brasileiras. Os setores de siderurgia, mineração e petróleo foram o destaque - afirma Adriana Berenguy, do IBGE.

Com a instalação de filiais brasileiras no exterior, cresceu o volume de transações financeiras entre a matriz, sediada no Brasil, e subsidiárias em outros países. Empréstimos desse tipo somaram R$8,3 milhões no terceiro trimestre de 2005, subindo para R$3,2 bilhões este ano.

Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, só em novembro os investimentos brasileiros diretos no exterior somaram US$2,118 bilhões, acumulando no ano US$24,945 bilhões, contra US$2,6 bilhões durante 2005 inteiro. É o maior valor da série do BC, iniciada em 1995, mesmo se for excluída a compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce, negócio fechado em outubro por cerca de US$17 bilhões.

- A internacionalização está apenas começando, e não é um fenômeno local. Para ganhar escala, firmas de países emergentes se mostram cada vez mais ativas no mercado internacional - afirma o economista-chefe da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Alexander Xavier.

País investirá mais do que receberá do exterior

A Sobeet estima que, até o fim do ano, o fluxo de recursos para o exterior será de US$26 bilhões. Com isso, o Brasil investirá mais no exterior do que receberá de estrangeiros (US$18 bilhões, prevê a Sobeet).

- O ano de 2007 terá números mais expressivos. Não é uma questão de escolha das empresas, mas de sobrevivência - disse Xavier. (Luciana Rodrigues e Aguinaldo Novo).