Título: Risco-Brasil cai abaixo dos 200 pontos
Autor:
Fonte: O Globo, 20/12/2006, Economia, p. 35

Para economistas, país não deve ser afetado por situação na Tailândia

O mercado financeiro brasileiro passou ao largo do controle de capitais anunciado ontem na Tailândia. Apesar da preocupação global com os desdobramentos da medida, o risco-Brasil - indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país - não apenas rompeu a barreira emblemática dos 200 pontos centesimais mas, pela primeira vez na História, atingiu os 199 pontos, numa queda de 1,49%.

A inflação mais alta que o esperado nos Estados Unidos garantiu ontem a continuidade no movimento de correção no mercado de câmbio e na Bolsa. O dólar comercial subiu 0,6%, para R$2,163. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a cair 1,37% durante o dia, mas no fim dos negócios, conseguiu se recuperar e fechou em alta de 0,19%.

- Mais do que o controle de capitais na Tailândia, a inflação americana pesou sobre os negócios no Brasil, pois aumentou a especulação de que os juros podem demorar a cair nos Estados Unidos - avalia Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos.

Inflação nos EUA tem a maior alta em três décadas

O índice de preços no atacado (PPI, na sigla em inglês) subiu 2% em novembro, bem acima das expectativas dos analistas, que esperavam uma alta de 0,4% a 0,5%. Foi a maior elevação desde novembro de 1974. O núcleo do índice, que exclui as maiores oscilações de preços nos setores de alimentos e energia, ficou em 1,3% - o maior avanço desde julho de 1980 - ante uma expectativa de apenas 0,2%.

As perdas no mercado tailandês, no entanto, deixaram os investidores em estado de alerta, atentos aos desdobramentos. Analistas, porém, são categóricos em afirmar que a possibilidade de contágio da economia brasileira por uma eventual nova crise na Ásia é hoje muito baixo. Há nove anos, um ataque especulativo contra a moeda da Tailândia deflagrou efeito-dominó que arrastou outras moedas do sudeste asiático e acabou derrubando os mercados globais.

Para Cecília Hoff, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ, o elevado nível de reservas e o câmbio flutuante protegem o Brasil de eventuais choques externos.

- O risco de contágio é mínimo. Com reservas superiores a US$80 bilhões, não temos muitos motivos para nos preocupar. O país está blindado - diz Hoff.

Sandra Utsumi, economista do BES Investimento, descarta uma nova crise asiática:

- A Ásia, em geral, tem um balanço de pagamentos robusto e o endividamento dos países é baixo, bem diferente do quadro de nove anos atrás- afirma.

Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, avalia que a queda do risco, ontem, para 199 pontos mostra que o Brasil não deve sofrer os efeitos colaterais do controle de capitais na Ásia. Para ele, a queda reflete uma antecipação do grau de investimento pelo mercado.