Título: Renan deixa Aldo só, e relação entre Senado e Câmara azeda
Autor: Braga, Isabel e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 21/12/2006, O País, p. 4
Deputados criticam senador por ter faltado a reunião
BRASÍLIA. A decisão do Senado de abandonar nas mãos da Câmara a solução para o impasse sobre o aumento dos parlamentares azedou o clima entre as duas Casas. Alguns deputados criticaram abertamente a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de não participar da reunião em que seria buscada uma solução para o impasse, ontem de manhã, deixando para os líderes e para o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o ônus do recuo ou mesmo da tentativa de aprovar qualquer aumento.
Já na noite de terça-feira, Aldo foi surpreendido pela informação de que o Senado não participaria do encontro, apesar de ter ido à reunião das Mesas realizada semana passada, quando se decidiu pela aprovação do teto de R$24.500.
- Quando a Câmara decidir o que fazer em relação a esse assunto, o Senado, como Casa revisora, se manifesta - disse Renan, evitando, como fez nos últimos dias, opinar sobre o valor do subsídio mais adequado.
Aldo foi o mais criticado pela decisão das duas Mesas
Desde a semana passada, Aldo foi o mais criticado por causa da decisão das duas Mesas - mesmo tendo chamado a atenção para o imenso impacto negativo que a medida teria na opinião pública. Diplomático, ontem ele continuava negando, de público, atrito com o Senado:
- Eu não fiquei sozinho. Eu pelo menos espero que tenha contado com a companhia de Deus - disse Aldo, ressalvando que o clima é de cordialidade, respeito e independência: - Tenho pelo senador Calheiros e pelo Senado não apenas apreço e respeito, tenho também amizade. São instituições que se respeitam e podem decidir de forma independente. Aquela decisão (favorável aos 90,7%) é passado. E o que eu fiz foi encaminhar uma decisão tomada. Ou encaminhava ou não tinha condições de dirigir a Casa.
Sob forte bombardeio da sociedade ao aumento, Renan evitou bancar a decisão tomada conjuntamente na última quinta-feira, avisando que a remeteria aos líderes. Na manhã de ontem, ao chegar ao Congresso, o presidente do Senado avisou que a iniciativa de fixar um valor caberia à Câmara. Já o Senado, em votação posterior, decidiria tendo por base a votação na Câmara.
- Todo mundo acha que devemos virar a página. A iniciativa é da Câmara, mas o desejo é resolver logo - disse Renan.
Durante a reunião na Câmara, vários líderes criticaram a ausência de Renan e dos líderes do Senado.
- Justiça seja feita. O Aldo foi bombardeado e deixado sozinho na chuva. O Renan é o grande ausente na reunião - disse Chico Alencar (RJ), do PSOL.
- As relações entre os líderes se deterioraram muito. A Câmara assumiu toda a responsabilidade pelo debate. No Senado, um silêncio pesado! Quanto menos eles se entendem, melhor para o povo neste momento - disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos que mais lutaram contra o subsídio de R$24.500.