Título: Petistas propõem ao PMDB dividir poder na Câmara
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 21/12/2006, O País, p. 5

Chinaglia e Garcia fazem proposta a Temer numa tentativa de derrotar Aldo, que tem o apoio de Lula

BRASÍLIA. Um duro golpe na candidatura à reeleição do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) - apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - foi dado pelo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), candidato do PT ao cargo. Ontem, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), divulgou cópia de uma carta de duas páginas recebida na véspera, assinada por Chinaglia e pelo presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, propondo um acordo para que os dois partidos dividam os quatro anos da próxima legislatura no comando da Casa.

Carta causa mal-estar entre os aliados do governo

Pela proposta do petista, o PT apóia a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado e, em troca, o PMDB sustenta sua eleição para a Câmara nesses primeiros dois anos. Nos últimos dois anos da legislatura, o biênio 2009 e 2010, o PT apoiaria a eleição de um peemedebista para suceder a Chinaglia na Câmara. A carta causou mal-estar no PMDB e entre os aliados do governo. Temer disse que vai enviar cópia da carta para a bancada e fazer uma reunião para discutir a proposta de acordo.

"Com base nos contatos que vêm sendo feitos diariamente na Casa, e também buscando, não a hegemonia , mas a repartição adequada de poderes, propomos: dividir a atual legislatura de maneira que o PT e o PMDB presidam a Câmara Federal. Nos dois primeiros anos seria o PT e nos dois anos seguintes seria o PMDB. Nessa proposta, quando um partido presidir, o outro escolherá em seguida o próximo cargo da Mesa", diz a carta enviada a Temer, no dia 19, por Chinaglia e Marco Aurélio Garcia.

Eunício Oliveira discorda da proposta do petista

Candidato do PMDB, maior bancada na Câmara, o deputado Eunício de Oliveira (CE) considerou despropositada a proposta de acordo assumida por Chinaglia. Ele disse que pesquisas feitas na Câmara apontaram Chinaglia em primeiro lugar com apenas três votos a sua frente, e em terceiro lugar Aldo Rebelo. Mas, afirmou, isso não é suficiente, nesse momento, para levá-lo a propor tal acordo.

- Isso não define eleição nem é suficiente para sustentar esse tipo de proposta. Está tudo muito confuso e ninguém sabe o que vai acontecer amanhã. É muito cedo para negociar qualquer acordo fechado lá para a frente. O PMDB tem que preservar sua posição. Esse tipo de acordo proposto é mais para viabilizar sua candidatura (de Chinaglia) do que para eleger - reagiu Eunício Oliveira.

Os aliados de Aldo igualmente reagiram com irritação.

- É a última tentativa desesperada de viabilizar sua candidatura - disse o corregedor Ciro Nogueira.

- Isso mostra a visão de hegemonia do PT, que tem muita dificuldade de apoiar outra candidatura que não seja do partido. É uma proposta de acordo para rachar a base. Não existe unidade para apoiar o Chinaglia - disse a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).