Título: Maluf vai a Lula: foi uma alegria
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 21/12/2006, O País, p. 5

Denunciado por lavagem, ele diz que poderia ser assessor informal do presidente

BRASÍLIA. Denunciado há três dias pelo Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha, o deputado eleito Paulo Maluf (PP-SP) liderou ontem a visita da nova bancada do PP ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PP faz parte do Conselho Político, formado por dez partidos que apóiam o governo. À vontade, Maluf contou, ao deixar o Palácio do Planalto, que foi recebido "com alegria" por Lula e chegou a dizer que poderia ser um "assessor anônimo e informal" do presidente. No encontro, Lula teria prometido dar um ministério ao PP.

Caminhando com a ajuda de uma bengala, o ex-prefeito de São Paulo ainda criticou o fato de os atuais parlamentares terem defendido um aumento de seus subsídios para R$24.500 e disse que "bandido bom é bandido na cadeia". Maluf e outros parlamentares do PP afirmaram que o presidente garantiu que não vai discriminar ninguém ou nenhum partido na montagem do governo.

O ex-prefeito negou que tenha sentido algum tipo de constrangimento por parte do presidente ou de outros membros do governo por sua presença, apesar de o Palácio do Planalto ter tentado fazer com que ele não integrasse a lista de convidados. O veto do Planalto chegou, sem sucesso, aos corredores do Legislativo.

- Precisava ver a alegria do Luiz Dulci (ministro da Secretaria Geral da Presidência), do Gilberto Carvalho (chefe de gabinete), do Tarso Genro (ministro das Relações Institucionais) e do presidente, o sorriso deles. O problema dele (Lula) não é pessoal com um ou com outro. Ele quer acertar - disse Maluf.

"Como nós dois temos mais de 60, estamos nos aproximando"

O deputado recém-eleito disse que sua prisão pela Polícia Federal foi uma violência e afirmou que até mesmo o presidente Lula havia sido preso no passado, quando era líder sindical dos metalúrgicos do ABC, na década de 70.

- O Supremo Tribunal Federal foi claro: a prisão foi ilegal e não tinha base jurídica. O que fizeram comigo foi uma violência. Como fizeram com o Lula, que também foi preso pela Justiça do Trabalho; com o Getúlio Vargas, que se suicidou; do Juscelino, que foi preso; do Washington Luiz, que foi expatriado; do Jânio, que foi preso; do Ademar de Barros, que foi preso. Estou em boa companhia. Quem sabe isso me credencia para ser, futuramente, presidente da República - disse Maluf, sorrindo.

O ex-prefeito contou que brincou com Lula sobre o fato de os dois terem mais de 60 anos. Dias atrás, Lula, de 61 anos, dissera que, com a maturidade, a pessoa deixa de ser de esquerda e assume posições mais de centro.

- Disse a ele: presidente, o senhor quebrou o pé direito (Lula torceu o pé, na verdade), e eu, o esquerdo. Como nós dois temos mais de 60, estamos nos aproximando - disse Maluf, que tem 75 anos e que machucou o pé correndo, há oito dias.

Maluf criticou a decisão do Ministério Público Federal de denunciá-lo, afirmando que foi uma "pirotecnia". Segundo ele, o MP já sabia que ele seria diplomado na terça-feira. Perguntado se tinha contas bancárias no exterior, respondeu:

- Se você encontrar, é sua.

Apesar de sofrer processos, ele repetiu que não foi condenado uma única vez em 39 anos de vida pública e deu até conselhos sobre segurança.

- Bandido bom é bandido na cadeia. Quando estava no governo, a Rota estava na rua. No Líbano, se mata. Aqui, se prende. Graças a Deus meu pai veio para o Brasil - disse.

Planalto fez mistério sobre presença de Maluf

Maluf disse que foi a primeira vez que esteve no Planalto no governo Lula. Na verdade, Maluf esteve ali em janeiro de 2003, para a posse do então ministro da Casa Civil José Dirceu.

- No governo Lula foi a primeira vez. Mas freqüento o Planalto há 40 anos.

Maluf afirmou ainda que o aumento para os deputados era inadequado:

- O certo seria, no máximo, a correção monetária.

O Planalto não informava ao longo do dia se Maluf fazia parte dos convidados. A nova bancada do PP tem 41 deputados e um senador, Francisco Dornelles, que não foi ao encontro.