Título: Arcebispo passa sermão no Congresso
Autor:
Fonte: O Globo, 21/12/2006, O País, p. 5

Dom João Aviz se queixa do aumento e ainda critica o Judiciário

BRASÍLIA. O sermão contra o aumento de 90,7% nos subsídios dos parlamentares, que vem sendo repetido em várias igrejas do país, chegou ontem aos salões do Congresso. Convidado para celebrar a missa de Natal do Legislativo, o arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, condenou o aumento e disse que políticos e magistrados estão preocupados apenas com seus interesses, ignorando as necessidades da população. Ele falou a uma platéia que incluía os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Ao condenar o que chamou de individualismo do mundo pós-moderno, dom João Aviz disse que o Congresso encerrava o período legislativo com muitas vitórias, mas também com lutas e tensões e uma imagem desgastada perante o povo. E criticou também o Judiciário:

- As últimas pautas, envolvendo também o poder Judiciário, nos deixam a sensação de que muitos dos nossos representantes do povo andam preocupados com seus interesses e com os interesses das corporações com as quais estão comprometidos, distantes, porém, do conjunto de interesses de todo o povo brasileiro.

Ele condenou especificamente o salário de R$24.500, que hoje recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal e que fora aprovado para vigorar a partir de 2007 como subsídio parlamentar pelas Mesas da Câmara e do Senado:

- Como aceitar que um parlamentar brasileiro receba mais de R$800 por dia, quando uma boa parte das pessoas que representa é obrigada a viver com R$12 por dia? Como aceitar que o poder Judiciário legisle, em alguns casos, a seu favor, sem demonstrar sensibilidade pelo povo, para quem as leis são feitas e interpretadas? Atitudes como a que temos visto nestes dias matam o espírito do Natal e apresentam uma ameaça real ao espírito de paz que o Natal anuncia.

O arcebispo encerrou pregando responsabilidade dos representantes do povo. Segundo ele, a sede de liberdade e igualdade, que é da natureza humana, exige que a fraternidade envolva todos os brasileiros. Aldo e Renan assistiram à missa, mas não comungaram. Ao fim da cerimônia, foram cercados pela imprensa e mal conseguiram cumprimentar Dom João Aviz.