Título: Às vésperas do Natal, estradas cheias de buracos
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 21/12/2006, O País, p. 11

Operação Tapa-Buracos, que gastou R$500 milhões este ano, não resolveu problemas e há vários trechos interditados

BRASÍLIA. A Operação Tapa-Buraco, lançada às pressas pelo governo federal no início do ano eleitoral, não foi suficiente para pôr fim no caos das rodovias brasileiras. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e a Polícia Rodoviária Federal informaram que ainda são precárias as condições de importantes estradas federais. Um exemplo do drama da má conservação é a BR-153: no último dia 14, a Justiça Federal em Minas Gerais determinou a interdição de um trecho da rodovia entre Monte Alegre de Minas e Prata, na divisa com São Paulo.

"A rodovia foi interditada devido às péssimas condições", diz relatório da Polícia Rodoviária Federal. O próprio governo reconhece as dificuldades. Há duas semanas, em reunião com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, dirigentes do Ministério dos Transportes informaram que 69% da malha rodoviária federal se encontram em condições más ou regulares. Apenas 31% da malha, de 54 mil quilômetros, é considerada boa para o trânsito de carros.

Entre os trechos críticos, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) aponta cerca de 300 quilômetros da BR-101, entre Ilhéus (BA) e a divisa do estado com o Espírito Santo. É um trecho muito utilizado por turistas de Rio, São Paulo e Minas Gerais que, no verão, costumam viajar ao sul da Bahia. As BRs 040 e 262, em Minas, também têm trechos precários. A BR-040 é uma importante ligação entre Brasília, Belo Horizonte e Rio.

Os trechos mais críticos da estrada estão entre Alagoinhas e Belo Horizonte. Na Região Sul, os maiores problemas ainda estão na BR-101, principalmente entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O trecho é uma das principais alternativas de turistas da Argentina, do Uruguai e do Rio Grande do Sul que vão às praias de Santa Catarina. O Dnit reconhece as dificuldades, mas alega que a rodovia está sendo duplicada. Segundo o diretor de Infra-Estrutura, Hideraldo Luiz Caron, os atrasos em viagens pela região são inevitáveis.

- As obras de duplicação da rodovia estão em andamento. Então é natural que em alguns pontos os motoristas tenham que passar por desvios e isso atrasa as viagens.

Mas não são apenas as rodovias utilizadas por turistas que estão com problemas. As estradas, essenciais para o escoamento da produção agrícola de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também estão com vários trechos esburacos. Caron sustenta, no entanto, que o governo já iniciou ou está preparando a recuperação de quase toda a malha da região.

O diretor de Cargas da Confederação Nacional de Transportes (CNT), Flávio Benatti, compara as más condições das estradas federais ao apagão do setor aéreo. Para ele, os dois problemas estão interligados e são parte os baixos investimentos que estão estrangulando o transporte no país. Pesquisa divulgada pela CNT informa que 54,5% da malha rodoviária brasileira se encontra em situação regular, ruim ou péssima.

- As estradas brasileiras estão inseguras. Se nada for feito, vamos ter problemas como o apagão do setor aéreo - afirmou Benatti.

No fim de novembro, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes disse que a Operação Tapa-Buracos desperdiçou muito dinheiro. No total, estão sendo investidos R$500 milhões em 27 mil quilômetros de rodovias federais.

- O dinheiro aplicado na Operação Tapa-Buracos foi literalmente jogado na sarjeta -- disse Nardes.

Hideraldo Caron, do Dnit, afirmou ontem que o órgão planeja investir R$8 bilhões nos próximos quatro anos só na recuperação das estradas federais. Segundo ele, o investimento será suficiente para por as rodovias em boas condições de tráfego. Parte dos projetos de recuperação das estradas fazem parte do Plano de Investimentos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar nos próximos dias. O plano é a plataforma do governo para impulsionar o crescimento da economia.

"Se nada for feito, vamos ter problemas como o apagão do setor aéreo"

FLÁVIO BENATTI

Diretor da CNT

"O dinheiro aplicado na Operação Tapa-Buracos foi literalmente jogado na sarjeta"

AUGUSTO NARDES

Ministro do TCU