Título: A longa agonia dos aeroportos
Autor: Rosa, Bruno e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 31

Mais de 40% dos vôos têm atraso e passageiros 'mofam' em aviões que não decolam

Mal começou o movimento de Natal e as viagens de fim de ano já se transformaram num pesadelo. Nos aeroportos do país, voltaram as filas e os saguões lotados, e até brigas foram registradas. Ontem, mais de 41% dos vôos tiveram atrasos superiores a uma hora: foram 501, dos 1.202 trechos programados. Outros 39 vôos foram cancelados, segundo boletim da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Houve muitas filas e até brigas.

São Paulo - onde a confusão foi agravada por causa das chuvas - registrou o maior número de esperas no país. Em Guarulhos, dos 127 vôos, 70 atrasaram (cerca de 55% do total). Em Congonhas, o aeroporto mais movimentado do país, o índice de atrasos foi de 29% (56 dos 194 programados). A assessoria da Infraero em Congonhas confirmou que o aeroporto ficou fechado das 17h08m até as 17h27m, por causa da chuva que despencou na tarde de ontem na cidade de São Paulo. No Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio, houve 52 atrasos, cerca de 50,4% dos 103 vôos de ontem. Houve várias interrupções na rede de dados da TAM, que opera com software próprio, no Tom Jobim.

Na sala de embarque de Congonhas, o jornalista Chico Pinheiro, da TV Globo, presenciou a agressão de uma funcionária da TAM por uma passageira que estava nervosa com a falta de informações, relatou o telejornal "SPTV". Ainda segundo a reportagem, a situação de Congonhas piorou à tarde, quando quase dois mil passageiros de um cruzeiro chegaram para embarcar.

Os ânimos dos passageiros ficaram exaltados no Aeroporto Internacional de Brasília, onde os atrasos dos vôos chegaram a mais de quatro horas. O vôo da TAM que deveria ter decolado em direção ao Rio às 15h45m já estava quatro horas atrasado quando os passageiros começaram a esmurrar os vidros da sala de embarque e a tentar quebrar as cadeiras. Diante da impossibilidade de conter a ira das pessoas, que gritavam e xingavam os atendentes, a companhia aérea optou por colocar todos dentro do avião, mesmo sem previsão para obter a autorização para voar. Às 20h15m, os passageiros ainda estavam na aeronave, que não havia saído do solo.

- Eles estão enfiando as pessoas no avião porque temem pela segurança dos atendentes. Não sabemos até quando ficaremos aqui - disse a jornalista Rita Fernandes.

A decolagem do vôo da TAM foi adiada por três vezes. Depois, a companhia deixou de fazer previsões e os passageiros ficaram sem informações. Rita contou que um outro vôo, de Brasília a Florianópolis, também atrasou: era para ter saído do solo às 13h, mas só decolou às 17h. A jornalista relatou que os controladores de vôo não estavam autorizando o pouso das aeronaves que chegavam a Brasília. Muitas estariam gastando até uma hora no espaço aéreo antes de aterrissar.

Foi recorde o número de queixas nos balcões da Anac: 104. Do total, 77 foram feitas no aeroporto de Brasília (com 30 atrasos dos 83 programados). Na terça-feira, foram contabilizados 18 protestos.

No Aeroporto Tom Jobim, o adolescente americano Warner Bailey, de 14 anos, chegou a dormir em cima das malas da família, na fila do check-in para embarcar para Florianópolis. A família esperou três horas na fila. O presidente do Partido Social Cristão (PSC) no Rio de Janeiro, Ronaldo Ázaro, e os deputados do partido Hugo Leal e Filipe Pereira também sofreram com os atrasos. Em Congonhas, a bancária Fabiana Fernandes esperou 12 horas e embarque para Ribeirão Preto, e foi informada de que o vôo foi cancelado.

Para a torcida do campeão mundial Internacional, que veio do Japão e aguardava em Congonhas para ir para Porto Alegre, não houve tempo ruim.

- Agora que a gente viu que não ia ter jeito, vamos fazer a festa - contou Pedro Inda, enquanto cantava o hino do time.

COLABORARAM Fabrício Calado Moreira (Do "Diário de S.Paulo), Márcia Foletto e Aguinaldo Novo

GRUPOS PROCESSAM GOVERNO E EMPRESAS, na página 32

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