Título: Reajuste do mínimo racha governo e adia pacote
Autor: Alvarez, Regina e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 33

Furlan e Dilma entram em conflito com Mantega. Medidas de desoneração suspensas seriam anunciadas hoje

BRASÍLIA. O aumento do salário mínimo para R$380, anunciado ontem pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, provocou divisão no governo e levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a adiar, para o início de janeiro, a divulgação do pacote de medidas que seria conhecido nesta quinta-feira. Para compensar o reajuste, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teria retirado grande parte das medidas de desoneração de investimentos, causando irritação aos ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Ao saber do reajuste, Furlan reclamou e teve a seu lado Dilma Rousseff. Ambos consideraram que as desonerações e o aumento de investimentos em infra-estrutura pelo setor público perderam espaço para o reajuste do salário mínimo. Segundo uma fonte, o ministro do Desenvolvimento chegou a entrar em confronto com Mantega, que recebeu o apoio de seu colega do Planejamento, Paulo Bernardo.

Presidente Lula considerou tímidas as medidas propostas

Ficou clara a divisão entre os que defendem o aumento do poder de compra dos trabalhadores cujos rendimentos são calculados com base no salário mínimo e aqueles que acreditam que o país só pode crescer a taxas mais vigorosas, em torno de 5% nos próximos quatro anos, se o setor público investir mais em infra-estrutura e se os investimentos em máquinas e equipamentos forem isentos de tributos.

Outra razão apontada por fontes do governo é que o presidente optou pelo adiamento, por considerar que as medidas continuam tímidas. Diante do racha, Lula teria ficado em uma situação difícil, uma vez que a decisão sobre o aumento do salário mínimo saiu no último momento. Embora o ministro do Trabalho e os dirigentes das centrais sindicais tenham fechado um acordo na madrugada de ontem, Mantega chegou a dizer, no fim da tarde, no Senado, que o acerto ainda não estava confirmado. Pouco depois, o governo divulgou que o mínimo subirá para R$380 em abril de 2007.

O presidente Lula quer mais alternativas, disse uma fonte, porque não considera as medidas suficientes para que a economia possa crescer mais. Mas vive o dilema de ter que encontrar formas de compensar a perda de arrecadação e o aumento dos investimentos públicos em infra-estrutura, como transportes e energia, via corte de gastos correntes e outras ações impopulares.

Coube ao porta-voz da Presidência da República, André Singer, anunciar o adiamento, no início da noite de ontem. Singer negou que tenha havido problemas na elaboração do pacote e se limitou a dizer que presidente Lula, que passou seis horas reunido com os ministros, pediu mais detalhes sobre as medidas. Segundo o porta-voz, a proximidade das festas de fim de ano também influenciou na decisão.

- O presidente ficou muito satisfeito com o resultado desse trabalho. No entanto, entendeu que ainda são necessários alguns detalhamentos em torno dos projetos que vão ser anunciados ao país. Em virtude das festas de fim de ano, esse anúncio vai ser feito no início de janeiro - disse Singer.

Corte de tributos atingirá apenas setores prioritários

A partir de agora, o governo tem como tarefa estudar medidas vinculadas a um corte maior de gastos. Por exemplo, os ministros propuseram que a suspensão da cobrança de IPI, PIS e Cofins sobre bens de capital atendesse a setores específicos, como o siderúrgico, o de alumínio, o petroquímico e o sucroalcooleiro, que prometeram fazer investimentos vultosos no país. Uma corrente defendia que o benefício fosse indiscriminado, para todas as áreas. A especificação dos segmentos deverá ser mantida, diante do novo quadro.

Momentos antes do adiamento do pacote, Mantega disse, em uma exposição no plenário do Senado, que, com a inflação sob controle, haverá espaço para a flexibilização da política monetária. Com isso, acrescentou o ministro, haverá queda mais acentuada dos juros e maior oferta de crédito. Ele também assegurou que o governo manterá o sistema de metas de inflação.

- Acredito que a meta de 4,5% é adequada para conciliar uma taxa de juros não tão severa com o crescimento - afirmou o ministro da Fazenda. - Não é uma inflação suíça, mas também não é exagerada, por ser menor que a da Rússia, da Argentina e de outros países emergentes.