Título: BC prevê expansão de 3,8% em 2007
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 33

Taxa de crescimento é inferior à meta do presidente Lula e desconsidera pacote

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) revisou para baixo sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) para este ano, de 3,5% para 3% e, para 2007, calcula expansão de apenas 3,8%. A projeção, revelada ontem no Relatório de Inflação trimestral, está bem abaixo dos 5% alardeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como previsão para o ano que vem.

O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, afirmou que as previsões são as "melhores para o momento" e esclareceu que não foi levado em consideração o possível efeito do pacote para destravar o crescimento que deverá ser divulgado pelo governo em janeiro. Em sua avaliação, a questão tributária, aliada à elevada burocracia e aos custos trabalhistas, são fatores que emperram investimentos no país.

- Para crescer, é preciso mais investimentos - resumiu Bevilaqua, negando-se a qualificar o ritmo de expansão que a autoridade monetária projeta.

Reação esperada no campo e na indústria em 2007

Para este ano, o BC também puxou para baixo os cálculos de crescimento da produção industrial (de 4% para 3,3%), dos serviços (2,8% para 2,4%) e da agropecuária (3% para 2,8%). Apesar disso, prevê que a atividade econômica deve começar a crescer mais rápido no último trimestre.

Já em 2007, segundo o BC, apenas o setor de serviços não terá crescimento acelerado (permanecerá em 2,4%), mas a agropecuária deverá expandir 3,7% e a indústria, 4,7%. O desempenho do próximo ano, mostrou o relatório, continuará sendo sustentado pela demanda interna - com 4,7% de expansão - já que o comércio internacional terá peso negativo de 0,9 ponto percentual.

O BC continua projetando inflação sob controle, e Bevilaqua se esforçou para mostrar que o Brasil está entrando numa fase mais em linha com outros países que também adotam regime de meta de inflação: oscilar perto ou abaixo do centro do alvo. Levando em consideração o cenário de referência - com a taxa básica de juros (Selic) constante a 13,25% ao ano e câmbio em R$2,15 - o BC espera que o IPCA fique em 3,1% neste ano, abaixo dos 3,4% que projetava no relatório anterior, de setembro. Para 2007, a autoridade monetária revisou de 4,3% para 3,9% e, para 2008, anunciou estimativa de 4,5%. A meta do governo é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O mercado está menos otimista e estima que o IPCA suba dos 3,1% deste ano para 4,3% em 2007 e 5,4% em 2008.

Meirelles defende política econômica no Congresso

Em exposição no Congresso sobre o cumprimento dos objetivos das políticas monetária, cambial e de crédito, o presidente do BC, Henrique Meirelles, ouviu críticas dos parlamentares a respeito do baixo crescimento da economia brasileira. Rebateu sustentando que 2006 será o terceiro ano seguido de crescimento salarial em termos reais e também do consumo das famílias. Fez ainda uma defesa da política econômica do governo Lula, lembrando que, de 1985 a 2003, foram criados 2,6 milhões de empregos formais, enquanto entre 2004 e 2005 foram gerados 2,8 milhões.

- São os efeitos que a política econômica teve sobre a população - argumentou.

Ele reconheceu que o volume de crédito na economia ainda é pequeno, na faixa de 33% do PIB. No entanto, destacou o papel das cooperativas de crédito nesse processo, especialmente em se tratando da população de baixa renda. Nos últimos quatro anos, contabilizou Meirelles, foram criadas 300 cooperativas do gênero.

- Os efeitos das cooperativas vão ser sentidos ao longo do tempo - disse.

Sobre os lucros inéditos dos bancos, ele disse que a rentabilidade do sistema financeiro nacional é compatível com outros segmentos da economia. E lembrou que há empresas não financeiras que têm hoje lucros maiores do que o dos bancos.

Perguntado por senadores e deputados de cinco comissões do Congresso se o BC não deveria ter mais ousadia na redução dos juros, ele disse que quedas artificiais acabam tendo o efeito contrário.

COLABOROU Mônica Tavares