Título: Taxa de analfabetismo no país ainda é comparável à da África do Sul
Autor: Almeida, Cássia e Louven, Mariza
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 34

Com 14,9 milhões de analfabetos, Brasil fica atrás de México e Vietnã

O Brasil vive, na área de educação, realidade comparável à da África do Sul. A Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE, mostra que, entre os brasileiros com 15 anos ou mais, a taxa era de 11% (14,9 milhões de pessoas) em 2005. Na África do Sul, o índice foi de 12,9%. Apesar de ainda alto, o percentual caiu 50,5% em relação à década de 50 e ficou 4,7% menor em relação a 1995. A taxa coloca o Brasil em situação de desvantagem entre os países da América Latina. Nações como Argentina e Chile têm índices residuais de analfabetismo - em torno de 3%.

- A África do Sul é o país mais semelhante ao Brasil neste indicador. A Coréia do Sul foi o que obteve melhores resultados: conseguiu uma queda sensacional para 1,6% em 2005 - afirmou a gerente de Indicadores Sociais do IBGE, Ana Lúcia Sabóia.

Quase um em cada quatro é analfabeto funcional no país

O total de analfabetos no Brasil era, em 2005, maior do que em países como México (7,%), Cingapura (6,2%) e Vietnã (6,6%). Entre os brasileiros, o universo dos idosos era o mais atingido pelo analfabetismo: o índice, em 2005, era de 37,7% entre as pessoas com 60 anos ou mais; de 18,9% entre os de 50 a 59 anos; e 13,9% entre as pessoas de 30 a 39 anos.

- O desafio de erradicar o analfabetismo permanece, principalmente entre idosos. Em 2005, 38,3% das pessoas com 15 anos ou mais freqüentavam cursos de educação de jovens. Entre as pessoas com 65 anos ou mais, o percentual era de apenas 0,6% - disse Ana Lúcia Sabóia.

O percentual que identifica a quantidade de pessoas com menos de quatro anos de estudo no Brasil, os chamados "analfabetos funcionais", chegou a quase um quarto da população (23,5%). Em 1995, o percentual era de 34,2%.

Na avaliação do presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, a universalização do ensino fundamental foi alcançada no país e o analfabetismo passou por uma redução expressiva. Mas ele alerta para a "proporção extremamente elevada" de analfabetos funcionais:

- Em um mercado de trabalho tão competitivo quanto o nosso, a educação é essencial para determinar a remuneração. Aquele que não a tem só consegue se inserir no mercado de trabalho por meio de empregos com baixa remuneração, agravando o problema da desigualdade na distribuição da renda - analisou Eduardo Nunes.

A pesquisa mostra que, apesar de o percentual de crianças de 0 a 3 anos na escola ter aumentado entre 1995 e 2005, ainda era de apenas 13% em 2005. Os índices de defasagem escolar também melhoraram, mas ainda eram expressivos. Na 8ª série, 36,4% dos alunos estão atrasados (têm idade superior à recomendada em até dois anos). O contingente de crianças entre 7 e 14 anos analfabetas caiu de 43,5% em 1995 para 28,1%.

- As políticas públicas não estão sendo capazes de solucionar o problema - afirma Ana Lúcia Sabóia.