Título: Desemprego afeta 5,1 milhões de jovens no país
Autor: Almeida, Cássia e Louven, Mariza
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 34

Com baixo crescimento e falta de politica pública, taxa no segmento avança 87% desde 1995 e chega a 21,5%

Amanda Bento da Silva e Rubert Martins Avelar, ambos de 18 anos, estão à procura de emprego, com mais 5,1 milhões de adolescentes e jovens de 10 a 24 anos, em todo o país. A taxa de desocupação dessas faixas etárias deu um salto entre 1995 e 2005. Entre 10 e 17 anos, passou de 11,5% para 21,5%, um avanço de 87%. Na parcela da população com idade entre 18 e 24 anos, a escalada fez a taxa pular de 10,7% para 18%. Os números da explosão do desemprego entre adolescentes e jovens apareceram na Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE.

O levantamento anual traz novos dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios (Pnad/2005), lançada em setembro último. A síntese mostrou também que o rendimento médio real do trabalhador está 12,7% menor que em 1995, mesmo com alta de 4,6% do ano passado.

Para os especialistas, por trás do alto desemprego dos jovens estão a população crescente nessa faixa etária empurrando uma massa de jovens para o mercado de trabalho, aliada à entrada maciça de mulheres disputando uma vaga, crescimento econômico baixo e falta de políticas públicas dirigidas a essa população:

- Há nove meses, desde que deixei Guimarães, no interior do Maranhão, estou procurando emprego no Rio. Nunca trabalhei. Por causa da falta de experiência e de qualificação não estou conseguindo encontrar emprego - afirma Rubert Avelar, 18 anos, que está no 2º ano do ensino médio e faz curso de garçom.

Jovens de 18 a 24 anos têm mais anos de estudo

O sonho de Avelar é fazer faculdade de gastronomia, para aperfeiçoar os pratos típicos do Maranhão que diz saber preparar com maestria:

- Se eu conseguir uma vaga num restaurante, já estarei perto do meu sonho.

Para o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, o aumento da população, a chamada onda jovem, trouxe uma pressão grande dessa população no mercado de trabalho:

- A entrada desses dois contingentes, de jovens como um todo e de mulheres, num momento em que a economia não apresenta ritmos elevados de crescimento, gera de um lado aumento da procura por parte da população jovem e, de outro, uma geração tímida de empregos. A combinação desses dois fatores explica a elevação da taxa de desemprego entre jovens e entre as mulheres (a taxa de desemprego delas é de 12,2%, contra 7,1% da masculina) no Brasil.

Distância entre ricos e pobres diminuiu na década

Amanda Bento da Silva enfrenta essa situação adversa no mercado de trabalho. Aos 18 anos, cursa o 3º ano do ensino médio e tenta uma vaga como vendedora. Mesmo com a oferta maior de empregos temporários para fazer frente ao movimento de Natal, a falta de experiência afastou Amanda dessa intenção:

- Vou tentar emprego em lanchonete mesmo. Estou procurando há quatro meses e nada. Só com experiência - diz Amanda, que pretende fazer faculdade de odontologia.

Cristiane Soares, que cuidou do capítulo de trabalho e rendimento da Síntese, chama a atenção para um dado ainda mais preocupante:

- Essa população de 18 a 24 anos tem mais anos de estudos: 8,7 anos contra sete da população. Isso mostra a baixa capacidade da economia de absorver esses jovens mais escolarizados.

Para o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, não há instrumentos de políticas públicas para lidar com esse grupo de adolescentes e jovens desempregados:

- Há um vácuo de política pública para essa população. O Bolsa Família não alcança esse segmento. O ideal é ter uma segunda bolsa de incentivos. O jovem sai da escola e se frustra ao não conseguir um trabalho.

Em setembro, a Pnad havia mostrado uma queda na proporção de jovens de 15 a 17 anos na escola. Como a ocupação nessa faixa diminuiu também, sobrou o desemprego para esses jovens. De 2004 para 2005, a taxa de desemprego subiu de 19,6% para 21,5% entre os jovens de 10 a 17 anos. E de 18 a 24 anos, de 17,1% para 18%.

Para Nunes, o desemprego entre jovens é difícil de resolver. Não é apenas o crescimento econômico que vai gerar oportunidades para eles. - Os jovens estão competindo com desempregados que têm baixa remuneração e que já têm alguma experiência. São necessárias políticas específicas para criar a primeira oportunidade de emprego.

Mesmo com o desemprego alto, a desigualdade diminuiu. A distância entre 40% mais pobres e os 10% mais ricos que era de 21,2 vezes em 1995 baixou para 15,8 em 2005.