Título: Inflação pelo IPCA-15 fecha o ano em 2,96%
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 39

Taxa é a menor desde 1998. IBGE prevê IPCA em torno de 3% em 2006, índice menor que o dos Estados Unidos

A inflação no Brasil fechará o ano na casa dos 3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se de um dos menores índices entre os países emergentes e os Estados Unidos. O Índice de Preços ao Consumidor-15 (IPCA-15) ficou em 0,35% em dezembro, ante 0,37% no mês anterior. Com isso, o índice no ano (IPCA-Especial) acumulou alta de 2,96%, quase metade dos 5,88% registrados no ano passado e a menor taxa desde 1998, quando ficou em 1,65%.

O IPCA-15 antecipa o IPCA cheio, que, por sua vez, orienta o sistema de metas de inflação do governo. A meta para este ano é de 4,5%.

Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, o principal responsável pela desaceleração do IPCA-15 em relação a novembro foi o grupo alimentação e bebidas. Em dezembro, o grupo teve alta de 0,48%, ante o 1,35% de novembro. No ano, o aumento do setor acumulou 1,08%, também abaixo da inflação de 2,15% registrada em 2005.

- Há um recuo forte dos alimentos, que representam 0,10 ponto percentual do índice de inflação. A desaceleração foi generalizada e aconteceu em quase todas as regiões metropolitanas. Preços menores de carne vermelha e frango impulsionaram a queda. O câmbio influenciou os itens de higiene pessoal, cujos preços subiram 0,5% este ano, e os artigos de beleza, com deflação de 0,35%. A economia brasileira é permeada pelo dólar. As tarifas públicas também foram reajustadas negativamente, como a energia elétrica e a telefonia fixa - diz Eulina.

Reajustes de ônibus terão mais impacto no IPCA

Em contrapartida, o índice sofreu pressão do vestuário, que registrou alta de 1,02%, ante crescimento de 0,45% em novembro. Para Eulina, a razão encontra-se no fim das promoções do varejo com a chegada do Natal. No ano, as roupas aumentaram 5,44%, depois dos 6,92% em 2005. O item cigarro também acelerou 4,66% este mês, contra 1,94% em novembro. E as tarifas dos ônibus urbanos subiram 2,01%, após estabilidade no mês passado.

- Os reajustes de 15% nos ônibus urbanos em São Paulo e de 5,26% no Rio serão refletidos de forma mais intensa no próximo índice. Os alimentos, provavelmente, vão vir abaixo de novembro. Com isso, o IPCA de dezembro virá na casa dos 3% - afirma Eulina.

Para algumas instituições, no entanto, a projeção do IPCA é de 3,2% para este ano. Essa é a aposta da Fecomércio-RJ e da consultoria Austin Rating. Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o Brasil será o 11º país entre os emergentes com o menor índice de inflação (3,2%) este ano. No topo da lista estão Polônia, que deve fechar o ano com 0,9%, Arábia Saudita (1%) e China (1,5%).

Na América Latina, o Brasil perde apenas para o Peru, com inflação projetada de 2,4%. Entre os países desenvolvidos, a inflação brasileira fica abaixo das taxas de EUA (3,6%), Austrália (3,5%) e Espanha (3,8%). Segundo Agostini, o Brasil tem uma das menores taxas de inflação e, ao mesmo tempo, uma das piores taxas de crescimento da economia.

- O Brasil alcançou sua menor inflação desde 1998, e o crescimento não vem. Os números mostram que o Banco Central errou na dose dos juros. Não tem como a inflação aumentar muito porque não há renda. Para o próximo ano, a expectativa de inflação é de 4% - afirma.

Índice mostra recuperação do salário, diz economista

Luis Roberto Cunha, economista da PUC-RJ, ressalta que a alta de 5,91% no grupo despesas pessoais, que inclui gastos com empregados domésticos, revela a recuperação do salário. O reajuste do salário mínimo este ano elevou os gasto com empregados domésticos em 10,83%:

- O custo de saúde e educação também revela alta acima da média. E a mão-de-obra está com peso importante.