Título: Economistas se dividem sobre câmbio
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 21/12/2006, Economia, p. 40

Ações como a da Tailândia são rejeitadas, mas há opções contra queda do dólar

Um dia após a Tailândia decretar o controle de câmbio, o mercado financeiro brasileiro teve um dia tranqüilo, com dólar em queda. No país asiático, a Bolsa subiu 11,2% ontem, com o anúncio, após o fechamento do mercado, na véspera, de que os investimentos em ações seriam excluídos das restrições. A moeda local, o baht, subiu 2% em relação ao dólar.

A situação na Tailândia, entretanto, levantou discussões entre os economistas sobre os rumos para o câmbio no Brasil, onde, como no país asiático, há um excesso de liquidez externa, que gerou forte valorização da moeda local. Acadêmicos debateram ontem que mecanismos poderiam ser adotados pelo governo para evitar uma alta ainda maior do real, o que impediria um aumento da produção e a geração de mais empregos.

Para a maioria, a queda mais acelerada da taxa básica de juros (Selic) e a contenção dos gastos públicos seriam as medidas mais eficazes.

- Com os juros mais baixos, parte dos recursos dos investidores migraria para o mercado de câmbio, como ocorria no passado, gerando uma valorização do dólar - avalia o economista Joaquim Eloi Cirne de Toledo, professor da USP.

BC: país está bem preparado para absorver choques

Para Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, além da redução dos juros, o Banco Central (BC) deveria aumentar o volume de compra de dólares no mercado e o governo poderia, adicionalmente, taxar exportações de determinados setores:

- O câmbio atual é resultado do equívoco que é a gestão macroeconômica do governo.

Já Fernando de Hollanda Barbosa, professor da FGV, acredita que intervenções no câmbio são inócuas e pondera que, sem um profundo corte de gastos, não será possível impedir uma queda ainda maior do dólar.

O BC mostrou ontem que enxerga menos problemas no cenário externo. Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, o Brasil está mais bem preparado para absorver choques de fora. Isso vale também para a recente turbulência na Tailândia.

- Não foram repercussões muito significativas (vindas do mercado tailandês). As pessoas saberão diferenciar que a economia brasileira é melhor em termos de balanço de pagamentos- afirmou o diretor.

A tranqüilidade dos investidores foi atestada ontem pelo comportamento dos indicadores: o dólar fechou em queda de 0,23%, cotado a R$2,158. A Bolsa de Valores de São Paulo chegou a subir 0,80% pela manhã, mas acabou encerrando o pregão em queda de 0,20%. Após atingir a mínima histórica - de 199 pontos centesimais - na véspera, o risco-Brasil subiu 1%, para 201 pontos.

COLABOROU Patricia Duarte, com agências internacionais