Título: No Rio, artistas expressam revolta e desilusão
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 22/12/2006, O País, p. 3

Classe apóia edição de medida provisória separando recursos da cultura e do esporte

RIO.Artistas como Marieta Severo, Ney Latorraca, Amir Haddad, Domingos de Oliveira e Deborah Colker, além de produtores culturais, reuniram-se ontem à tarde no Teatro Poeira, em Botafogo, em clima de revolta contra a aprovação da Lei do Esporte sem a emenda que desvinculava do texto os recursos da cultura. Eles enviaram ao Congresso a proposta de que, em apoio ao plano do Ministério da Cultura, o presidente Lula sancione a lei editando uma medida provisória que faça a verba para o esporte via incentivo fiscal sair dos 4% de recursos incentivados do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT)e do Programa de Renovação Tecnológica, e não dos 4% reservados às leis Rouanet e do Audiovisual. Caso a medida provisória seja editada, ela precisa ser votada pela Câmara em até três meses (contando da volta do recesso de fim de ano) para não trancar a pauta da Casa.

Uma das reclamações durante o encontro da classe artística ontem foi a de que a Câmara teria se preocupado mais com a votação do reajuste a seus próprios salários e teria votado a Lei do Esporte com desatenção.

¿ Estou desiludido e triste ¿ disse, com uma bandeira do Brasil, Ney Latorraca, que pretende voltar ao Congresso semana que vem para lutar pela emenda.

¿ Para mim acabou. ¿Forças noturnas¿ agiram ¿ afirmou Fernanda Montenegro, que não foi ao encontro. ¿ Jogaram a batata quente para o presidente Lula, e esses dois ministros deviam poupá-lo disso. Mas pode ser que ocorra um milagre de Natal.

`Para o próprio esporte é melhor não disputar recursos conosco¿

Durante o encontro, os artistas conversaram por telefone com a senadora Ideli Salvatti, líder do PT no Senado, que lhes recomendou contactar os líderes dos partidos na Câmara. O presidente da Associação de Produtores Teatrais do Rio (APTR), Eduardo Barata, afirmou que este ano foram investidos em cultura, pela Lei Rouanet, quase R$800 milhões, enquanto o PAT não chegou a gastar R$200 milhões.

¿ Para o próprio esporte é melhor não disputar recursos conosco. Não tem por que esticar um cobertor curto ¿ ressaltou Marieta Severo.

Em nota, a Associação Paulista de Produtores Teatrais (Aptesp) classificou a aprovação da lei pela Câmara, sem a emenda antes acordada, como ¿traição¿. A Comissão de Entretenimento da seção São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) lembrou, também em nota, que ¿no próximo ano teremos os Jogos Pan-Americanos na cidade do Rio¿ e que ¿certamente esse evento desviará a atenção dos patrocinadores¿.