Título: Empresários temem efeito do mínimo na Previdência
Autor: Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 22/12/2006, O País, p. 10

Fazer bondades com aumento de gastos não é prudente

SÃO PAULO. O aumento do salário mínimo de R$350 para R$380 não afeta parte da indústria e do comércio, que já paga salários médios maiores, mas a notícia desanimou empresários, preocupados com o efeito do reajuste nas contas públicas, e sobretudo na Previdência, que terá aumento maior no seu déficit.

¿ O ministro Luiz Marinho (Trabalho) e o presidente Lula insistem em manter a atitude que vêm tomando desde o início do governo, de fazerem bondades, mas que ao mesmo tempo inviabiliza o processo de maior crescimento da economia. Fazer bondades com o aumento dos gastos não é prudente num momento em que todos esperávamos um rigor maior nas contas do governo ¿ disse o empresário Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Afif defende corte de privilégios nas aposentadorias

Outros empresários paulistas também não questionam a necessidade de recuperar o salário dos trabalhadores, mas criticam o efeito do aumento do mínimo nas contas públicas.

¿ Isso levará a um impacto de R$6 bilhões na Previdência, ou R$1 bilhão a mais se o salário mínimo tivesse sido fixado em R$375, como queria o ministro Mantega (Guido Mantega, da Fazenda). Se o governo mantiver o superávit em 4,25% do PIB, terá que cortar gastos de outros setores ou reduzir ainda mais a sua capacidade de investimento, que já é de 1% do PIB ¿ disse Fernanda Della Rosa, assessora econômica da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio SP).

O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, diz que, sem o corte de privilégios nas aposentadorias, não é possível aumentar ganhos de quem está na base da pirâmide.

¿ Aumentando os gastos públicos, sem cortar privilégios nas aposentadorias, teremos que aumentar impostos, aumentar o endividamento ou emitir mais moeda, elevando a inflação. As três alternativas são péssimas para o país ¿ disse Afif Domingos, que em janeiro assumirá a Secretaria do Trabalho do governo de São Paulo, indicado pelo governador eleito José Serra (PSDB).

Por essa razão, os empresários acham que a economia não vai crescer no ano que vem os 5% esperados.

¿ Nem o presidente Lula acredita mais em crescimento de 5% no ano que vem. O governo não tem capacidade para investir, e a iniciativa privada está mergulhada em impostos e juros altos ¿ disse Paulo Francini.

Para o empresário Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Indústrias de Base e da Infra-estrutura (Abdib), o aumento do mínimo acima do que previa a proposta de Orçamento trará de volta em 2007 a necessidade de uma nova reforma da Previdência:

¿ Embora o salário mínimo ainda afete a iniciativa privada, porque ele é referência em várias empresas do país, o maior efeito é nas contas públicas. O que não pode acontecer é que, para tapar esse déficit, se aumente a carga tributária. As empresas não suportam mais aumento de impostos.