Título: Estourado depósito da máfia dos caça-níqueis
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/12/2006, Rio, p. 17

Componentes para a montagem de máquinas de jogos eletrônicos eram guardados perto da sede da PF

A pouco mais de um quilômetro de distância da sede da PF, na Praça Mauá, na movimentada Avenida Rodrigues Alves, policiais federais de Brasília estouraram ontem no início da tarde o maior depósito do Rio de componentes eletrônicos para a montagem de máquinas caça-níqueis do bicheiro Fernando Iggnácio. Os equipamentos, avaliados em US$500 mil, estavam estocados num boxe dentro de uma empresa cercada de segurança máxima, no número 867 da avenida.

Os policiais federais encontraram milhares de placas-mãe, placas de vídeo e teclados. No depósito havia gabinetes (estrutura de madeira e acrílico) de máquinas caça-níqueis e centenas de notas fiscais frias da Adult Fifty Games, empresa de fachada de Fernando Iggnácio. As notas seriam usadas para legalizar o contrabando dos componentes eletrônicos.

Componentes teriam sido trazidos de Taiwan

Documentos apreendidos no depósito mostram que os equipamentos foram ¿importados¿ por Fernando Iggnácio, supostamente ilegalmente, da empresa Taiwan International Currency Technologies Corporation, em Taiwan. Os contêineres com o material chegaram em São Paulo e foram recebidos por um homem identificado apenas como Ronaldo, que usaria o codinome de Antônio Aoki, com endereço no Jardim Satélite, na capital paulista. O resultado da operação deverá ser apresentado hoje na Polícia Federal.

Os policiais chegaram ao boxe monitorando as conversas entre Fernando Iggnácio e seu contador, Carlos Henrique de Jesus, que foi preso na Operação Gladiador e supostamente administraria ainda negócios da quadrilha na Bahia e em Minas. Os agentes disseram ainda que o galpão estava em nome da empresa H&R Contadores Associados, registrada em nome de Carlos Henrique.

¿ Achamos que o depósito era o maior do bicheiro e usado como local onde a quadrilha apanhava peças para reposição ¿ disse um dos policiais.

Segundo os agentes federais, Fernando Iggnácio ficou enlouquecido ao descobrir que a PF havia descoberto o depósito. Em ligações monitoradas, passou a ligar da carceragem da Polinter, em Neves, seguidamente, para o contador. Numa das ligações, mandou membros da quadrilha retirarem tudo do depósito. Um caminhão, com dois homens, foi à porta do depósito para retirar o material no domingo passado.

¿ Mandamos a administração do local mudar as senhas dos membros da quadrilha. Quando eles tentaram entrar, não conseguiram ¿ afirmou um dos policiais.

Durante toda a tarde e a noite de ontem, os policiais iniciaram a contagem do material apreendido. Todas as caixas e todo o depósito foram esvaziados. Havia documentos ligando a empresa de Fernando Iggnácio e supostos sócios em São Paulo e até fora do pais.