Título: A cada mês, R$300 mil para a Madame
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/12/2006, Rio, p. 17

Lista de pagamento de propinas relaciona ainda homem identificado como Príncipe

A análise do conteúdo do pen drive (dispositivo portátil de armazenamento de dados) apreendido pela Polícia Federal com um dos contadores do contraventor Rogério de Andrade revela o pagamento mensal de R$300 mil para uma mulher identificada como Madame. A contabilidade detalha valores de remessas mensais de dinheiro para delegacias e batalhões da PM. Outro beneficiado pelo esquema de corrupção é citado como Príncipe. Ao lado do codinome está escrito: ¿verdadeiro sócio da organização com direito a percentual do faturamento das atividades da organização criminosa¿.

Despacho da 4ª Vara Criminal Federal registra as denúncias

As informações constam do despacho da 4ª Vara Criminal Federal, em resposta à denúncia do Ministério Público federal. No documento, o delegado federal Victor César ¿ um dos responsáveis pela Operação Gladiador ¿ informa ter sido procurado pelo ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins, após a apreensão do pen drive. O deputado estadual eleito, segundo Victor, demonstrou preocupação em saber se seu nome constava no pen drive. A assessoria de Lins informou que ele vai se pronunciar hoje, às 11h, durante entrevista.

O pen drive com a lista de pagamentos a delegacias e batalhões usa codinomes para identificar os beneficiados com altas cifras. A Polícia Federal trabalha agora para chegar aos nomes por trás dos códigos listados no esquema de corrupção. Pelos valores, os envolvidos na investigação acreditam que os pagamentos eram feitos a autoridades. O equipamento eletrônico estava pendurado no cordão do ex-PM Rolland de Holanda Cavalcanti. Preso em companhia de Rogério Andrade, ele é apontado pela PF como um dos responsáveis pela contabilidade do bando.

O despacho da 4ª Vara Criminal Federal também faz referência ao pagamento de propina à Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco). Sem citar valores, o documento atribui a acusação ao ex-policial federal Paulo Cezar Ferreira do Nascimento, o Paulo Padilha.

Preso em operação da Polícia Civil, em Búzios, o ex-policial aparece reclamando em escutas telefônicas da prisão. Nas gravações, Padilha argumenta ter pagado propina à Draco para não ter o nome citado entre os indiciados que tiveram as prisões decretadas pela Justiça.

¿Apesar da intrínseca relação com a organização de Rogério de Andrade, Paulo Padilha também organizou nova e própria estrutura para exploração de máquinas caça-níqueis. Principalmente no interior dos bingos: Municipal, no Centro, e Scala, no Leblon¿, diz um trecho do documento da 4ª Vara Criminal Federal.

Ainda de acordo com as investigações da PF, Paulo Padilha teria pagado R$6 mil de propina a um fiscal que descobriu a emissão de notas frias para ocultar a importação ilegal de máquinas. As notas frias tinham como objetivo, segundo a PF, dar aparência de legalidade ao negócios e subfaturar os valores pagos pelos equipamentos eletrônicos.