Título: Dossiês envolvem autoridades
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/12/2006, Rio, p. 17

Ex-assessor de Lins tinha documentos sobre a cúpula da segurança e integrantes do governo

Apontado em investigações da Polícia Federal como o homem forte da campanha eleitoral do delegado e deputado estadual eleito Álvaro Lins (PMDB), o inspetor Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho, o Marinho, que foi lotado como assessor especial no gabinete do então chefe de Polícia Civil, tinha guardados em casa, em Vila Isabel, dossiês contra integrantes da cúpula do governo e da segurança pública. Os documentos foram apreendidos por agentes da PF de Brasília, durante a Operação Gladiador, deflagrada na última sexta-feira para reprimir as atividades da máfia dos caça-níqueis, chefiada pelos bicheiros Rogério Andrade e Fernando Iggnácio.

Os dossiês traçam perfis psicológicos das autoridades, algumas até há bem pouco tempo em postos-chaves do governo e da segurança pública. Um capítulo é dedicado ao que os policiais federais acreditam ser uma análise do potencial dos citados em colaborar, apontando pontos fortes e fracos de cada um deles. Procurada pelo GLOBO, a PF preferiu não comentar a apreensão da documentação.

Em relatório encaminhado pela PF ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), policiais encarregados das investigações apontam Marinho como o responsável pelo caixa de campanha de Álvaro Lins. O problema, segundo o relatório dos policiais federais, é que o inspetor não estava afastado de suas funções de policial para exercer a atividade eleitoral. Isso caracterizaria crime eleitoral por uso da máquina pública.

Marinho, ainda segundo a Polícia Federal, trabalhou na campanha de Lins juntamente com o inspetor Fábio Menezes de Leão, o Fabinho, que foi preso durante a Operação Gladiador. Os dois inspetores apareceriam em escutas telefônicas tratando de questões como abertura de comitês eleitorais, pagamentos de gráficas e de cabos eleitorais.

Propinas chegariam a R$5 mil semanais

As transcrições e os respectivos áudios das escutas foram enviados ao TRE acompanhando o relatório da operação. Marinho, porém, não foi denunciado pelo Ministério Público federal. O GLOBO tentou contato com o inspetor, mas não conseguiu localizá-lo para comentar seu suposto envolvimento na campanha de Lins.

A Operação Gladiador foi deflagrada para desarticular um grupo de policiais ¿ segundo a Polícia Federal, supostamente comandados por Lins ¿ suspeito de dar segurança tanto para a quadrilha do contraventor Rogério Andrade quanto para a de Fernando Iggnácio. Com isso, os acusados conseguiam ter o controle sobre todas as atividades da máfia dos caça-níqueis.

Ainda segundo as investigações da Polícia Federal, a propina paga pela proteção chegaria às delegacias semanalmente e seria entregue por emissários dos dois bicheiros a inspetores de polícia supostamente ligados a Lins. Em média, os valores semanais eram de R$3 mil por delegacia, mas os agentes federais identificaram remessas de até R$5 mil.

Com um dos presos, o policial civil Paulo César Oliveira, a PF apreendeu anotações contábeis do pagamento de propinas a várias delegacias, entre elas a 33ª DP (Realengo) e a 34ª DP (Bangu), região onde se concentra a disputa, que já resultou em mais de 50 mortes, pelo controle dos caça-níqueis. Para manter o equilíbrio de forças na região, os dois grupos recebiam tratamento igual.