Título: TAM e Infraero trocam acusações sobre caos
Autor: Santos, Ana Cecília e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 22/12/2006, Economia, p. 35

Segundo empresa aérea, falha foi da estatal, que diz por sua vez que não recebeu qualquer comunicação do problema

RIO e BRASÍLIA.Não bastassem todos os problemas que os passageiros enfrentam nos aeroportos diariamente, falhas no sistema de transmissão de dados no aeroporto Antonio Carlos Jobim (Galeão), no Rio, ajudaram a piorar o nó na aviação às vésperas do Natal. A TAM acusou a Infraero no Galeão de ter falhas na rede de dados, o que afetou sua operação. A Infraero, no Rio, por sua vez, disse, oficialmente que não recebeu, nem na quarta-feira e tampouco durante todo o dia de ontem, informações de que haviam sido identificados problemas. Na troca de acusações, quem levou a pior foi, mais uma vez, o passageiro, que voltou a esperar horas pela chance de embarcar.

Uma fonte do setor afirmou que a falha ocorreu no sistema de dados da TAM, que tem softwares independentes. Caso contrário, afirma a fonte, as demais companhias aéreas teriam registrado o mesmo problema, se a pena tivesse acontecido no sistema do Galeão. Um problema como o que aconteceu com o software da TAM, diz a fonte, provoca uma confusão nos dados e mistura as informações dos vôos.

Ainda segundo a mesma fonte, o problema já foi resolvido mas, por precaução a Infraero no Galeão verificou todo o sistema de dados para se certificar se havia alguma avaria e nada foi encontrado.

Além da pane no sistema, a TAM teve seis aviões com problemas e que foram encaminhados para manutenção não programada, o que agravou ainda mais a situação dos passageiros

O próprio presidente da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, culpou a TAM pelo caos nos aeroportos ontem atribuiu às condições climáticas o agravamento do problema. Ele prometeu para hoje uma melhora na situação dos terminais.

Zuanazzi se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e concedeu entrevista acompanhado do presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), Marco Antônio Bologna ¿ que também representava a TAM ¿ e do comandante da Aeronáutica, Luis Carlos Bueno. Também estava na sala ao lado, o porta-voz da Presidência da República, André Singer.

¿ Amanhã (hoje) será um dia bem melhor, as primeiras 24 horas são as piores. A tendência é de normalidade ¿ disse ele.

As seis aeronaves da TAM que tiveram que ser recolhidas para manutenção, apresentaram problemas mecânicos, explicou Bologna. Segundo ele, como a malha aeroviária é integrada, ocorreu um efeito cascata, ou seja, um atraso em um ponto do trajeto compromete os demais. Zuanazzi disse que os fiscais da agência constataram que a versão da companhia está correta. Atualmente, a empresa conta com 84 aviões operando vôos domésticos e 10 rotas internacionais.

¿ Não existe 100% de pontualidade no setor aéreo ¿ disse o presidente da Anac.

Bologna descartou a possibilidade de a TAM ter retirado vôos de propósito.

¿ Já tivemos este tipo de cancelamento em outras épocas. Leva a um impacto. Nada é feito de propósito ¿ garantiu Bologna.

O outro problema que levou aos caos nos aeroportos, segundo Zuanazzi, foi o fechamento do aeroporto de Congonhas por duas vezes. Em uma delas, ele ficou sem funcionar por 50 minutos.

¿ Não há qualquer restrição por parte do controle aéreo ¿ garantiu o comandante da Aeronáutica, Luis Carlos Bueno, que descartou a possibilidade de os controladores serem aquartelados a partir de amanhã, como aconteceu nas últimas crises.

Anac está apurando denúncias de overbooking

¿ Não há insegurança na aviação brasileira, é o contrário. Por questões de segurança é que essas coisas acontecem ¿ garantiu.

Zuanazzi contou ainda que a Anac está rediscutindo o funcionamento dos aeroportos de São Paulo. Segundo ele, já estão marcadas duas audiências públicas para debater a questão. A Anac, de acordo com Zuanazzi, está verificando as denúncias de overbooking (quando o passageiro não consegue embarcar, devido à falta de lugares). Ele destacou que, nos últimos meses, de um total de mil denúncias de consumidores, mais de 300 acabaram em multas contra as empresas. No entanto, o presidente da Anac admitiu que algumas coisas a agência ¿não consegue resolver no tempo desejado¿.

¿ O que a agência pode defender o consumidor é resolver o problema. Não adianta ficar fazendo bravata e não resolver o problema.