Título: Desemprego cai pouco e frustra especialistas
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 22/12/2006, Economia, p. 38

Taxa baixou de 9,8% para 9,5%, apesar das vagas temporárias para o Natal. No ano, rendimento cresceu 4,3%

A pouca geração de vagas em novembro fez a taxa de desemprego praticamente não se mexer no mês passado: baixou de 9,8% de outubro para 9,5%, informou ontem o IBGE. Tradicionalmente, nessa época do ano, a taxa cai com mais força pela criação de vagas temporárias no comércio e pela queda na procura por ocupação. O que não aconteceu no mês passado. Mas o salário teve recuperação expressiva: frente a novembro de 2005, foi de 5,7%, e contra outubro, de 0,6%. No ano, o rendimento já subiu 4,3%, a maior alta em quatro anos.

Para o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo, o ano de 2006 tem sido marcado por uma melhora qualitativa do mercado de trabalho, mas frustrante na abertura de vagas:

¿ Foi um ano meio sem graça em termos de aumento da ocupação. O baixo dinamismo da economia não conseguiu absorver os trabalhadores. Em novembro, o comércio decepcionou. No ano passado, houve fenômeno semelhante no varejo: alta em outubro e em dezembro. Mas o salário se recuperou e o emprego com carteira assinada cresceu.

Os resultados deste ano não frustraram o economista Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, a criação de 600 mil vagas em um ano se aproximou do maior avanço anual da série da Pesquisa Mensal de Emprego, que foi em 2004. Naquele ano, aumentou em 646 mil o número de ocupados:

¿ O emprego cresceu dentro do esperado, mas houve entrada grande de pessoas procurando trabalho. Esse movimento está arrefecendo. Isso significa menos pressão no mercado.

Ele reconhece que, no primeiro semestre, a ocupação praticamente parou, mas no terceiro trimestre avançou com mais força. E o emprego com carteira foi a vedete. Há mais de dois anos, ele cresce mais que o sem carteira. Das 600 mil vagas abertas, 487 mil foram protegidas, ou seja, 81% do avanço da ocupação.

¿ O recuo da formalização no período eleitoral já ficou para trás ¿ disse Ávila.

O economista acredita que esse cenário de melhoria nas condições de trabalho permaneça em 2007. Ele cita o mais longo ciclo de queda de juros já visto no país, com a taxa Selic alcançando seu menor nível da história, e a política expansionista do governo como fatores que vão favorecer o aumento do emprego.

¿ A tendência é continuar a queda da taxa de desemprego, mantendo a formalização e subindo o rendimento. A inflação baixa facilita a negociação por recomposição salarial.

Mesmo com o avanço no rendimento, Azeredo, do IBGE, lembra que o salário ainda está atrás do maior nível já alcançado, que foi em 2002:

¿ O salário ainda está recuperando as perdas que ocorreram em 2003.

No ano, taxa de desemprego ficou igual à de 2005

O rendimento médio em novembro estava em R$1.056,60, valor 8,8% menor que o maior nível da série, que foi em setembro de 2002. Naquele mês, os trabalhadores recebiam, em média, R$1.158,60.

De janeiro a novembro, a taxa média de desemprego ficou em 10,1%, praticamente igual ao mesmo período de 2005 (10%). Ávila acredita que neste mês, a taxa fique abaixo de 9%, como aconteceu em 2005, quando o desemprego baixou de 9,6% para 8,3%.