Título: Lula defende teto salarial único
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 23/12/2006, O País, p. 3

Presidente propõe política homogênea para todos os poderes e fala em correção no Executivo

Numa conversa de uma hora e meia com jornalistas, em que disse estar com o sentimento de dever cumprido ao fim de seu primeiro mandato, o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva entrou na polêmica sobre o teto salarial dos três poderes. O presidente defendeu uma política salarial homogênea para Executivo, Judiciário e Legislativo. Lula anunciou ainda que vai negociar com os partidos políticos a criação de regras de longo prazo, e mais precisas, para estabelecer o teto salarial e impedir distorções, como os casos de servidores que ganham muito acima do limite atual, de R$24.500.

Lula aproveitou para defender a correção dos salários no Executivo. Disse que enviará ao Congresso Nacional, juntamente com a reforma política, uma proposta de emenda constitucional (PEC) estabelecendo regras mais rígidas do teto.

Numa crítica à tentativa dos parlamentares de aumentar seus subsídios, o presidente disse que as regras de longo prazo são para "evitar novas surpresas à sociedade". A Constituição, na verdade, já estabelece um teto, que é o vencimento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), atualmente em R$24.500.

A seguir, os principais trechos da conversa:

TETO:¿Defendo a tese de que, na discussão com os partidos políticos sobre a reforma política, a gente também discuta a questão de mandar (ao Congresso) uma PEC estabelecendo um teto salarial no país. Quanto vai ser, eu não sei. Mas vamos ter que cuidar disso, porque há distorções e muitas distorções. E, se a gente estabelecer as regras definitivas para a sociedade brasileira saber o que vai acontecer a cada ano, não acontecerá nunca a surpresa que aconteceu agora. Nunca acontecerá. Então, sou favorável ao estabelecimento de regras duráveis, coisas de longo prazo, que possam garantir a todo mundo. Desde o dia em que uma criança for batizada, ela vai saber quais são as regras salariais neste país para todo mundo. E aí vai ser muito mais fácil. Vou trabalhar para que isso aconteça.¿

TETO 2:¿Acho importante o teto único para os três poderes. No Executivo, desde 1998, não tem reajuste de salário. Sabe como é difícil manter o André Singer (porta-voz da Presidência) com um salário de R$7.500? Não é fácil estabelecer uma política salarial homogênea para os poderes. Mudar a cabeça das pessoas não é fácil, principalmente quando quem ganha mais acha que vai perder. Vamos encontrar uma solução negociada.¿

DEVER CUMPRIDO: ¿Termino o ano, não com alegria total, porque a alegria de um ser humano é infinita ¿ quanto mais alegre ele está, mais conquistas ele quer ter ¿ mas eu termino o ano com o sabor do dever cumprido. O dever cumprido na área econômica, o dever cumprido no processo eleitoral. Começo o segundo mandato e termino o primeiro mandato com muito mais otimismo. O segundo turno foi uma obra de Deus. A sociedade pôde saber quem era quem na política nacional. Não quero fazer um mandato repetindo o primeiro. Tenho que fazer coisas novas.¿

CULTURA E ESPORTE: ¿Lamentei profundamente que o acordo feito entre a cultura e o esporte, que foi aprovado pelo Senado, não tenha se repetido na Câmara. Isso significa que nós vamos ter que tomar alguma medida, porque a cultura não pode ser prejudicada. O fato de nós querermos ajudar o esporte não nos obriga a diminuir o ímpeto dos investimentos na cultura. Então, alguma medida nós vamos tomar para ver o que eu posso construir. Se for necessário fazer uma outra medida provisória, farei. Não tem nenhum problema.¿

PALÁCIO DO POVO:¿Recebo tanto empresário, por que não posso receber os trabalhadores? Quando deixar a Presidência do Brasil, meu sonho é que a gente tenha instituído outro padrão de relacionamento entre Estado e sociedade. O Palácio não é feito para essa gente, é feito para rei, rainha, ministros, megaempresários. O Palácio de presidente tem que ser de todos. Os humildes estão vindo, e as pessoas gostam disso.¿

DESTRAVAR O PAÍS: ¿O país precisa ser destravado. Tem coisa travada por lei, por prática política, por vício.¿

SÉRGIO CABRAL E O RELACIONAMENTO COM O RIO DE JANEIRO: ¿Vai acontecer uma coisa extraordinária (no Rio de Janeiro). Está destravada a relação do governo federal com o Rio. Havia 34 projetos da Petrobras que estavam parados pela Secretaria estadual do Meio Ambiente. O Rio precisa de investimento. O estado precisa de investimento e uma entidade do próprio estado não liberar? (Lula disse que conversou com o governador eleito sobre a liberação desses projetos).¿

ELEIÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA: ¿Não posso dar palpite. Mas vou ajudar para construir, para que a base aliada tenha um candidato único. Conversar com todo mundo: com Aldo Rebelo (do PCdoB, presidente da Câmara e candidato à reeleição), com o Arlindo Chinaglia (candidato do PT), com os dois. Só quero chamar as pessoas à responsabilidade.¿

RELAÇÃO COM A IMPRENSA: ¿Espero me educar para ter um outro relacionamento com a imprensa. Quero ter uma relação mais cordial. Que em 2007 seja o ano da imprensa e que vocês possam ganhar tudo o que vocês querem, escrever tudo o que vocês precisam escrever e vamos estar juntos aqui. Vamos ver se a gente consegue renovar este café. Durante a campanha, algumas entrevistas pareciam mais uma inquisição do que entrevista, mas acho que foi bom, que faz parte da cultura política do Brasil, do aprendizado de todos nós.¿

REFORMA MINISTERIAL: ¿Mesmo aqueles ministros que disseram que vão sair, só vão sair quando eu disser que saiam. (Lula disse que não tem pressa para a reforma ministerial e que os ministros não precisam de nova posse, só ele e o vice José Alencar).¿

PREVIDÊNCIA SOCIAL:¿A reforma da Previdência é para garantir a futura geração. (Lula lembrou que será criado um fórum nacional para discutir o assunto, que não se mexerá com os atuais trabalhadores e que a discussão não pode ser apaixonada).¿

ENXUGAR MINISTÉRIOS:¿Enxugar? Não tem ninguém molhado.¿

MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA DE LULA na página 4