Título: Caso Dossiê: PF indicia Mercadante e mais seis
Autor: Vargas, Rodrigo
Fonte: O Globo, 23/12/2006, O País, p. 9

Senador deve responder por crime eleitoral; há suspeita de que dinheiro teria saído de caixa dois petista em SP

CUIABÁ. Depois de 96 dias, a Polícia Federal concluiu ontem o relatório sobre o episódio da compra do dossiê contra políticos do PSDB. Sete pessoas foram indiciadas. Entre elas, estão o senador Aloizio Mercadante (PT/SP) e o tesoureiro de sua campanha ao governo de São Paulo, José Giácomo Baccarin.

Ambos teriam cometido crime eleitoral, ao não declarar na prestação de contas da campanha valores que seriam utilizados na compra do dossiê, pois a PF suspeita que o dinheiro para a compra do material possa ter saído do caixa dois da campanha petista em São Paulo. Segundo o artigo 350 do novo Código Eleitoral, o candidato responde ¿solidariamente¿ por recursos e gastos não-contabilizados ou provenientes de caixa dois da campanha.

Por lavagem de dinheiro, foram indiciados o ex-coordenador de comunicação da campanha de Mercadante, José Hamilton Lacerda, e os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Os dois últimos foram presos no dia 15 de setembro no hotel Íbis, em São Paulo, portando cerca de R$1,7 milhão ¿ em reais e dólares ¿ que seria utilizado na compra dos documentos em poder do empresário Luiz Antonio Vedoin, dono da Planam, a empresa que superfaturou a compra de ambulâncias com recursos da União.

Também por lavagem de dinheiro e por crime contra o sistema financeiro, o relatório apontou os nomes dos proprietários da casa de câmbio Vicatur, do Rio de Janeiro, Sirley Chaves e Fernando Soares, como indiciados.

Da empresa, segundo a PF, saíram os US$240,8 mil descobertos com Valdebran e Gedimar. O rastreamento de compras suspeitas revelou que o dinheiro foi sacado por meio de seis laranjas. Os boletos referentes a essas vendas somam exatos US$240,8 mil.

¿Não acreditamos se tratar de coincidência. Para nós, é forte indício da origem criminosa daqueles dólares ¿ apontou ontem o superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz.

PF não identificou origem dos reais apreendidos

Lorenz não citou o nome dos indiciados, alegando que o processo está sob segredo de justiça. Confirmou que a descoberta da origem dos dólares é o principal fundamento para as acusações de lavagem de dinheiro e que o crime eleitoral estaria circunscrito a São Paulo.

A origem dos reais apreendidos ¿ cerca de R$1,2 milhão ¿ não foi detectada. Segundo Lorenz, a PF analisou mais de um milhão de movimentações bancárias, mas não identificou rastros do dinheiro.

¿ Em algum momento, aquele montante passou pelo sistema financeiro, mas não foi possível identificar sua origem ¿ disse Lorenz, acrescentando que não ter sido possível comprovar que o dinheiro tenha vindo de bancas de jogo do bicho no Rio de Janeiro.

O inquérito tem 1.400 páginas e mais de 32 anexos. Além das movimentações investigadas e os depoimentos de 29 testemunhas, o texto registra ainda o resultado de mais de mil quebras de sigilos telefônicos.

Todo o material foi encaminhado ontem ao juiz Jefferson Schneider, da 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso. O Ministério Público Federal pode, se considerar necessário, solicitar novas diligências, antes de oferecer ou não denúncia contra os indiciados.