Título: Polinter: fuga teria custado R$1,5 milhão
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 23/12/2006, Rio, p. 17

Em depoimento, preso acusa Álvaro Lins de ter recebido parte do dinheiro

Denúncias de um preso que esteve na Polinter-Centro, na Zona Portuária, revelam que a fuga espetacular ocorrida em outubro de 2001, quando uma carreta foi usada para derrubar um muro daquela unidade e dar fuga a 14 internos da cela 15, custou a uma facção criminosa R$1,5 milhão. Parte deste valor, segundo a denúncia, teria sido entregue ao ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins, que já tinha manifestado interesse em concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa. Policiais corruptos teriam recebido no total R$1.320.000, pagos por dois advogados gêmeos, conhecidos como Tico e Teco, da quadrilha de traficantes da Favela de Vigário Geral. O restante não foi pago, resultando no assassinato do preso identificado como Ulisses, de Vigário Geral.

Preso deu depoimento a promotor em São Paulo

Todo esse detalhado relato foi feito em depoimento formal pelo preso Fabiano de Oliveira da Costa, que, condenado por tráfico, ficou na Polinter de 1998 a 2003, quando foi transferido para o Presídio Ary Franco. Testemunha do assassinato do chinês Chan Kim Chang no Ary Franco, em setembro de 2003, Fabiano foi transferido para a penitenciária Alberto Brocchieri, em Bauru (SP).

O depoimento foi tomado pelo promotor de Justiça Rubem José Bastos Vianna, hoje coordenador da 2ª Central de Inquéritos do Ministério Público estadual, no dia 15 de dezembro do ano passado. Mas as investigações, feitas pela Corregedoria de Polícia Civil, não confirmaram as denúncias.

Delegado pedirá o desarquivamento

A juíza Sirlei Biondi, da 21ª Vara Criminal, arquivou o inquérito em 26 de outubro, depois de requisição da 23ª Promotoria de Investigação Penal (PIP). Autor do relatório final sobre a investigação, o delegado Ricardo Martins, atual corregedor, informou, no entanto, que, diante das recentes descobertas feitas pela Polícia Federal, pedirá ao promotor a reabertura do caso. Álvaro Lins não quis comentar o assunto, alegando que o caso está arquivado.

¿ Embora as apurações tenham detectado uma série de contradições, o momento é importantíssimo para o aprofundamento das investigações ¿ disse Martins.

O promotor Homero das Neves disse que poderá fazê-lo:

¿ Primeiro precisarei ter acesso ao inquérito da Polícia Federal. Depois, poderei requisitar ao procurador-geral de Justiça (Marfan Vieira) o desarquivamento. É preciso observar que não há instância superior para investigações sobre policiais que ocupem cargos de chefia. Ou seja: quem investiga policial, sendo ele carcereiro ou o chefe de Polícia, é a Corregedoria. E o corregedor é escolhido pelo chefe de Polícia ¿ disse o promotor.