Título: Lins nega ligação com máfia de caça-níqueis
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 23/12/2006, Rio, p. 17

Eu não aceito essa classificação de chefe de quadrilha e vou reagir para que essas pessoas paguem pelo que fizeram

Uma semana depois de ser apontado pela Polícia Federal como chefe da quadrilha de policiais civis suspeitos de envolvimento com a máfia de caça-níqueis, o ex-chefe de Polícia Civil e deputado estadual eleito Álvaro Lins (PMDB) deu uma entrevista coletiva ontem, para dizer que não tem ligações com a contravenção. Durante a entrevista de 35 minutos, realizada no escritório do seu advogado Jorge Mazilo, no Centro, Lins levantou a possibilidade de algum policial ter usado o seu nome, durante a campanha eleitoral, para pedir dinheiro:

¿ Eu não pedi dinheiro, nem voto a bandido. Eu não aceito essa classificação de chefe de quadrilha e vou reagir, até o resto da minha vida, para que essas pessoas que tenham feito isso paguem pelo que fizeram.

O delegado ressaltou que não está respondendo a qualquer processo:

¿ O Ministério Público, analisando sete meses de investigação da Polícia Federal, não ofereceu denúncia contra mim, considerou as provas insuficientes ¿ comentou.

Lins disse ainda desconhecer que Marcelo Itagiba, quando era secretário de Segurança, tenha pedido seu afastamento da Chefia de Polícia à governadora Rosinha Garotinho. Segundo Itagiba, ele informou a governadora verbalmente sobre as denúncias do suposto envolvimento de Lins com a máfia de caça-níqueis, em agosto do ano passado. Itagiba disse ainda que, em dezembro de 2005, pediu a Rosinha a substituição do ex-chefe de Polícia, por causa de denúncias feitas por um preso. De acordo com o o detento, quando estava na Polinter-Centro, os internos tinham que pagar quantias a carcereiros ligados a Lins.

¿ Se ele recebeu alguma denúncia contra mim, só posso crer que nunca acreditou nela. Porque, se eu recebo uma denúncia contra uma pessoa que trabalha comigo, acredito nessa denúncia e continuo fazendo campanha política ao lado dela, ou eu sou mau caráter ou irresponsável ¿ ironizou Lins.

Lins nega ter prometido contratar candidatos

O delegado também disse que o TRE arquivou a ação que apurava a denúncia de que prometera contratar excedentes do concurso para policial civil em troca de votos. A Procuradoria Regional Eleitoral recorreu ao Superior Tribunal Eleitoral. Segundo o procurador regional eleitoral Rogério Nascimento, há provas contra Lins. Entre elas, uma gravação em que o ex-chefe de Polícia pede a assessores que dêem sumiço num DVD com a filmagem do momento em que ele teria afirmado que rasgaria sua carteira, se não conseguisse a contratação dos excedentes. Lins alega que pediu que não distribuíssem a gravação porque queria saber, antes, das acusações que lhe eram atribuídas.

¿ Na verdade, eu disse o seguinte: ¿Rasgo a minha carteira se vocês não entrarem na Polícia Civil¿ ¿ argumentou.

Sobre a informação de que teria procurado o delegado da Polícia Federal Victor César Santos, para saber o conteúdo de um pen drive (dispositivo portátil de armazenamento de dados) encontrado com um dos contadores do contraventor Rogério Andrade, o ex-chefe de Polícia diz que o fez por curiosidade.

¿ Uma repórter me procurou e me disse o seguinte: ¿Doutor Álvaro, com a prisão do Rogério Andrade, deve haver uma operação em que o senhor é alvo¿. Quando ela deu essa informação, eu resolvi procurar o delegado que efetuou a prisão de Rogério. Perguntei se haveria na prisão dele algo que me incriminasse. Ele disse que não. Eu disse isso a ele, que não tinha preocupação nenhuma, porque nunca tive contato com Rogério Andrade ¿ contou Lins.

Delegado alega não saber de envolvimento de PM

Em relação à gravação, autorizada pela Justiça, de uma conversa telefônica na qual o deputado faz um agradecimento ao policial militar Jobson Ribeiro de Aguiar, o Binho, apontado como chefe de área de Rogério Andrade, o deputado eleito disse que o conhecia, mas não sabia de sua suposta ligação com a máfia dos caça-níqueis. Lins disse que foi apresentado a Jobson pela jornalista Débora Farah, num clube, juntamente com o então candidato, hoje deputado federal eleito, Marcelo Itagiba.

¿ Nunca soube do envolvimento dele (Jobson) com a máfia de caça-níqueis. Durante a minha campanha, tive contato com centenas de pessoas por dia. Não sei dizer quem foram as 108.652 pessoas que votaram em mim ¿ explicou.

Sobre a sua relação com os três policiais civis suspeitos de envolvimento com o contraventor Rogério Andrade, que tiveram suas prisões decretadas a partir da Operação Gladiador, da Polícia Federal, desencadeada na semana passada, Lins limitou-se a dizer que trabalhou com eles na Divisão Anti-Seqüestro (DAS) e na Polinter, em 1998 e no ano 2000. Segundo Lins, depois que passou a chefiar a Polícia Civil, não trabalhou mais diretamente com eles:

¿ Eu conheço alguns dos policiais. Tinha contato com eles, porque exerciam funções operacionais na polícia. Alguns deles até conseguiram realizar ações de destaque, o que justificaria qualquer contato com uma autoridade policial, como a operação que levou à morte do traficante Bem-te-vi.