Título: Força Aérea resgata passageiros
Autor: Tavares, Mônica e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 23/12/2006, Economia, p. 31

Anac coloca dez aviões da FAB para transportar clientes da TAM

Agrave crise que atingiu os aeroportos do país levou o governo a intervir na TAM ¿ que na quarta-feira tirou de circulação seis aeronaves, alegando problemas operacionais. A investida começou logo pela manhã, quando a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) colocou fiscais nos setores de reservas e operações da companhia e proibiu a venda de passagens aéreas até domingo ¿ determinação que não foi cumprida pela empresa. E culminou com a disponibilização de dez aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), pela Anac, para que a TAM pudesse transportar os passageiros que estavam abandonados. A ordem foi dada diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dos 1.214 vôos programados, 583 (ou 48% dos trechos) registraram demoras superiores a uma hora. Outros 40 foram cancelados.

Em nota divulgada pela manhã, a Anac lamentava que não houve melhora no atendimento dos passageiros. À tarde, Lula radicalizou: colocou à disposição da empresa as aeronaves da FAB, com capacidade para atender a 600 passageiros ¿ nas filas dos aeroportos, há milhares de pessoas sem conseguir embarcar. Entre os aviões estão o Sucatão, antigo avião presidencial, e o Sucatinha, usado normalmente por ministros de Estado ou como reserva do Aerolula em viagens presidenciais.

Segundo a Anac, os aviões oferecidos pela FAB foram: um 737 (Sucatinha), que partiu de Brasília para Confins (MG) ontem à noite; duas aeronaves 707, previstas para sair do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, uma para Brasília e outro com a rota Confins-Salvador-Maceió. Além disso, estavam disponibilizados quatro aviões 145 da FAB e três aeronaves Brasília (Embraer 125). Em nota, a TAM informou que ¿fretou¿ ¿ a FAB diz que seus aviões não estão disponíveis para fretamento ¿ sete aviões, cujo valor não foi divulgado. Além disso, a TAM está arcando com as despesas de combustível e tarifas aeroportuárias.

Um Boeing 707 vai fazer hoje a rota Galeão (Rio)/Confins/Salvador/Maceió (ida e volta). Outro Boeing 707 fez, segundo a companhia, a rota Galeão/Brasília/Galeão e a rota Galeão/Guarulhos/Galeão. Os quatro ERJ 145 foram usados para o trecho Galeão/Brasília, ida e volta, ontem. Um Boeing 737-200 será usado para o trecho Brasília/Confins

O Comando da Aeronáutica informou que as despesas pela utilização das aeronaves da FAB serão pagas integralmente pela companhia. Em nota, a Aeronáutica explicou ainda que a utilização dos aviões da FAB tinha como objetivo ¿amenizar as dificuldades presentemente experimentadas pelos usuários da aviação civil comercial¿.

Outra medida tomada pela Anac foi determinar que, excepcionalmente, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ficasse aberto durante a madrugada.

A intervenção branca na TAM foi costurada diretamente por Lula, que trocou telefonemas durante todo o dia com as autoridades envolvidas, incluindo o ministro da Defesa, Waldir Pires. A operação foi fechada no fim da tarde, com a oferta de aviões da FAB. Mais cedo, quando tomava café da manhã com jornalistas, Lula disse uma frase enigmática:

¿ A única coisa que não podemos resolver, porque a União não tem empresa de aviação, é atender a todos os passageiros. Espero que ninguém venda passagens a mais.

Ao longo do dia, tudo ficou mais claro. A TAM não podia mais vender passagens e o governo, mesmo sem ser dono de uma empresa de aviação, recorreu à FAB.

Em Brasília, foram programados apenas 91 vôos. O número, abaixo da média de 150 trechos, não amenizou os atrasos. Cerca de 52% dos vôos demoraram mais de uma hora. Em São Paulo, o aeroporto de Congonhas, o mais movimentado do país, com 192 vôos programados, 72 (37,5%) tiveram demoras. Em Guarulhos, o índice foi de 40%. No Tom Jobim, 53 vôos (52% dos 103) tiveram atrasos.

O Procon-SP informou ontem que a TAM suspendeu a cobrança de taxas de remarcação e de desistência dos passageiros que tiveram seus vôos cancelados ou atrasados nos últimos dias. Em nota, o Procon-SP explicou que a TAM informou ao órgão que a decisão será mantida durante os feriados de Natal e Ano Novo ou enquanto continuar o caos nos aeroportos. O Procon-SP orientou as demais companhias a tomarem a mesma atitude.

As ações ordinárias da TAM, com direito a voto, recuaram 7,7% ontem, cotadas a R$63,01. Os papéis preferenciais (com prioridade no recebimento de dividendos) ficaram estáveis, valendo R$62,50.