Título: Nos aeroportos, novo dia de atrasos e protestos
Autor: Brígido, Carolina e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 23/12/2006, Economia, p. 33

Passageiros reclamam de filas intermináveis, falta de informações e horas de espera. Policiamento foi reforçado

BRASÍLIA, RIO e BELO HORIZONTE. Mais uma vez, o dia foi marcado por intensa revolta dos passageiros da TAM. Além de padecer com os atrasos, os passageiros reclamavam da falta de informação. No auge de sua indignação, um grupo de 30 passageiros do vôo 9051 da TAM, que fazia escala na capital federal, ocupou a pista de pouso e decolagem do aeroporto para protestar. No Aeroporto Tom Jobim, a situação também foi caótica: passageiros tentavam furar uma fila de 600 pessoas, cachorros latiam, o ar-condicionado não dava vazão e quase todos os vôos estavam atrasados.

Por volta das 5h30m, após mais de dez horas de atraso, um grupo de passageiros bloqueou a entrada da sala de embarque da TAM no Tom Jobim. Um avião Fokker 100, com lugar para 108 pessoas foi colocado à disposição, segundo a companhia, mas não seria suficiente para transportar os 115 passageiros que aguardavam. A TAM ofereceu R$500 para quem quisesse embarcar no próximo vôo, às 8h40m, o que provocou mais revolta. A PM foi chamada para conter os ânimos.

Fila com 600 pessoas demorou seis horas

A espera chegou a quase dez horas. O advogado Sérgio Cabral chegou ao Tom Jobim às 8h com Lyon, seu cachorro de estimação. O vôo, marcado para as 9h30m, saiu às 18h45m do Tom Jobim para o Maranhão.

¿ Estou preocupado porque trouxe pouca ração e água para o Lyon. Ele está estressado ¿ disse Sérgio.

A Infraero confirmou que os quatro aparelhos de ar-condicionado não estavam dando vazão devido ao forte movimento no aeroporto. Para evitar novas manifestações, policiais deram plantão todo o dia no Tom Jobim. Com 600 pessoas, o atendimento na fila do check-in da TAM ultrapassou seis horas.

Em Brasília, o vôo 9051 chegou de São Luiz às 10h20m e seguiria para São Paulo. Depois de aguardarem até às 11h15m dentro do avião, os passageiros foram orientados pela companhia aérea a trocar de aeronave. Ao deixar o avião, foram informados que aquela aeronave seria ocupada por um outro grupo, que aguardava há mais tempo. Sem saber quanto tempo esperariam, invadiram a pista para protestar. A Polícia Federal e a Polícia da Aeronáutica foram acionadas e o grupo foi levado para uma sala dentro do aeroporto, onde negociou diretamente com representantes da TAM o tempo que esperariam.

A passageira Elisangela Carneiro dos Santos, 31 anos, perdeu a paciência e simplesmente sentou-se em um dos balcões de check-in da TAM, com a sua filha de 10 anos, e começou a gritar para ser atendida. Policiais chegaram ao local para tentar retirá-la, mas ela não cedeu.

¿ Paguei a minha passagem à vista, sou uma cidadã que paga imposto. Não admito ser maltratada todo mundo tinha que dar grito ¿ disse ela.

A administradora de empresa Gesiane Fernandes, de Goiânia, seguiria para Palmas em um vôo da TAM marcado para as 10h47m. Ao chegar ao balcão da empresa, ela foi informada de que o vôo havia sido adiado para as 15h30m. No início da tarde, Gesiane, que iria ao enterro do pai, que faleceu ontem, foi avisada de que não havia previsão para a saída de Brasília.

¿ Ninguém liga que meu pai faleceu ¿ disse Gesiane, chorando.

Já a estudante de Direito Queilla ia para Macapá, também pela TAM. Ela estava muito nervosa e xingou os funcionários da empresa:

¿ Tinha um compromisso que podia mudar a minha vida.

Após as 15h, a TAM distribuiu um vale de R$20 para o almoço dos passageiros.

PASSAGEIROS PAGAM POR AVIÃO, MAS VIAJAM DE ÔNIBUS, na página 35